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jeudi 3 décembre 2015

Me guarda num cantinho dentro de você


Pode ser na nuca. No emaranhado dos seus cabelos quando acorda. Ou até mesmo atrás do ombro, aquele lugar que eu amava e você nunca lembrava...Você me teve de uma forma tão bonita... Não esquece não. Me põe embaixo da manga do seu casaco largo que eu adorava usar. Ou no bolso esquerdo do jeans onde eu esquentava minha mão. Me escuta na melodia daquele vinil do Sinatra, e se me perder, me encontra nos raios de sol da sua cama de manhã. Só não finge que eu sou mais um livro naquela estante empoeirada que você insiste em ignorar, mas que te dá uma alergia danada. Perdoa a dor que a lembrança da minha risada lhe causar e permita-se sentir saudades, mesmo que por um segundo. Você disse que não ia me apagar nunca, mas já apagou as fotografias. E eu sei, é por causa dela. Não quero atrapalhar seu novo amor, de forma alguma. Por mais que eu queira mais que tudo. Você me conhece, ainda te chamo de amor quando te vejo no final da esquina. Eu sei, já faz um tempo. Mas você não explicou seus erros. E eu fiquei aqui tentando montar um quebra-cabeça impossível. É claro que você já deve ter desarrumado todas as roupas que eu dobrei aquele dia. Mas eu sei que pelo menos uma, aquela blusa branca que você detestava, ainda deve estar do jeito que eu deixei no fundo do armário. Não desdobra. Deixa ela ali como um pedaço de mim em segredo. Não sei se vou voltar algum dia pra colocar as coisas em ordem. Estou uma zona. Mas se estiver com tempo, o que sempre lhe faltou, pega as cartas e as aquarelas em que declarei meu amor incondicional e desfaz as dobras. Eu também estou ali. Cuida desse pouco, ou muito, que eu deixei sem querer. É que hoje a saudade de morar no seu abraço bateu. Mas agora a casa está ocupada. Volto outra hora. Me guarda atrás da porta. Cansei de esperar do lado de fora. 






jeudi 19 novembre 2015

Eu acordei em outra cama


É claro que um dia eu me perguntaria o que há de errado em declarar qualquer forma de amor não correspondido. Apesar de nunca ter segurado a língua ou a caneta para esse tipo de coisa, sempre vi todos a minha volta engasgando com aquelas palavras que não saiam nem entravam. Só fazia mais confusão do que um simples e frio não. Até porque é aquela velha história: "o não você já tem". E não há frase com a qual eu mais concorde. Já ganhei e já perdi muita felicidade entre as cartas e poesias que clamavam pelo amor. Mas se de tudo eu decidisse contar, certamente afirmaria que ganhei muito mais sorrisos do que lágrimas. Porque o risco é palavra chave para se amar. E se teve algo que fiz por sentir demais foi arriscar. Arrisquei perder o tempo, acabar com a paz da família, virar as madrugadas, zerar as provas de francês, cortar o cabelo, chorar ouvindo Chico... Arrisquei riscar os discos, beber demais naquela festa, fugir de casa, costurar os botões da sua camiseta, não terminar de escrever um livro, contar os dias para dezembro. E dezembro não chegou. Mas eu arrisquei mesmo assim. E não me arrependo nem um pouco. Porque enquanto era tudo apenas um risco, foi intenso, foi completo, foi maravilhoso. Foi tudo o que eu não trocaria por ter me privado de qualquer uma dessas possibilidades. Afinal, apesar dos pesares, só dezembro não chegou. Mas vai chegar, esse e outros pelos quais ainda não corri riscos. E talvez eu arrisque janeiros ou marços da próxima vez. Porque no meio de todos esses meses, eu acordei em outra cama que não a sua. Em outra cidade que não a nossa. Em novembro que não dezembro. É um risco, eu sei. Amém.

jeudi 5 novembre 2015

O mundo vai dar voltas



O mundo vai dar voltas. E eu sei como você vai chegar, se chegar. Eu sei que vai tropeçar nos seus erros e cair naquela velha poça do arrependimento. E se ainda sobrar a coragem que hoje transborda dos seus atos mal pensados, você vai bater na minha porta ou no meu ombro, na fila do cinema. E aí, se bem lhe conheço, de corpo e alma, você vai fazer aquela cara de surpresa e vai começar a despir sua culpa achando que ainda pode entrar. Acontece que não sou mais a sua casa... E quando você entender isso e o resto das minhas reticências, você vai engasgar a mágoa que deixei atrás da porta e se sufocar com suas justificativas ridículas. E gostaria muito de dizer que diante do seu desespero, eu tiraria a saudade do armário e te cobriria com a minha ingenuidade. Mas, me desculpe, meu bem. Hoje não vai dar. E nem amanhã. Eu troquei minha dor por alguns pedaços de amor próprio e colei-os com aquele pouco de orgulho necessário a qualquer ser humano.  E por falar em trocas, nada mais fomos do que isso: eu te ganhei, você me perdeu. Como vai o novo amor? Nem se pergunte sobre os meus. Você me conhece, as paixões me caem muito bem. E tem sido muitas. Se lembro de nós? Sempre. Mas o mundo vai dar voltas. E eu sei como você vai chegar, se chegar. E é bem provável que não chegue.






jeudi 29 octobre 2015

A vida segue


É claro que é difícil, que dói, que não é simples. Obvio que vai demorar. Mas vai passar. Você vai passar muito tempo jurando que não quer conhecer ninguém, que quer dormir pra sempre, que nunca mais vai querer ver a luz do sol. E pode acreditar: o drama acaba, cedo ou tarde. E ele é necessário, não nego. Deve ser vivido com toda a histeria que merecer. Mas quando finalmente silencia, a calma te carrega pra fora, e te faz lembrar de tudo o que ainda existe. Aí a vida te leva pela pela mão como uma velha amiga e te dá novos motivos para sorrir, para chorar, para pensar, para lembrar... Sim, agora a dor grita nos seus ouvidos. Agora você ainda se arrepia ao ouvir o nome daquele alguém. Ainda revira o estômago pensar em areia de praia molhada,  matemática, sutien preto, queijo com mel, todas as músicas do Chico, poeira cósmica ou rabo de cavalo. E tudo isso ainda vai te socar, te bater, te matar aos poucos por muito tempo. E não vai ser alguém ou alguma coisa que vai fazer parar. Vai ser o tempo e o quanto você caminhar que vão te levar para longe e, um dia, tudo isso vai ser uma voz muito baixinha que vai murmurar o necessário vez ou outra quando chover na praia ou quando alguém inventar de comer queijo com mel do seu lado. Mas, por enquanto, os berros só ecoam porque, apesar de todos os erros gravíssimos que ele cometeu, você viveu um pedacinho do paraíso com ele. E o paraíso foi muuuuuito maior do que qualquer pecado cometido. O que não significa que o tenha perdoado de tamanho erro. Muito pelo contrário, pequena. Mas ter controle disso tudo é seguir em frente sem olhar mais de três vezes para trás. É suspeitar que talvez você, que sempre sentiu tanto, tenha finalmente encontrado a razão de amar o que importa, o que merece. E sim, você importa muito! 


jeudi 8 octobre 2015

É impossível amar por dois


O fato é que não é possível amar por dois. A verdade sobre estar junto, pequena, é que quando um não está, não está ninguém. Namorar não é dar as mãos ao meio-dia e dar as costas à meia-noite. É mais simples e mais complicado. É diferente do que pensam os metódicos: o amor não tem técnica, tem sentimento. Não são as horas do seu dia que você gasta a conversar com a pessoa. São os segundos que você sussurra "boa noite" para ela pelo telefone de madrugada. Não são as 3086954 flores que você compra para ela toda semana. É aquela roubada que você põe atrás da sua orelha depois de um dia de chuva. Não é o silêncio que você faz para deixá-la dormir sossegada no fim do dia. É o barulho dos seus gemidos de madrugada que trazem conforto. Namorar é não deixá-la esperando um sinal, de vida, de afeto ou carinho. É estar ali antes que ela acorde de manhã. É tê-la nos braços todos os dias como se fosse a última vez. É não fingir que aquela lágrima não escapou dos olhos dela. É deixá-la louca toda vez que a tocar. É entender que ela quer que você vá, por mais chato que possa ser. Porque para ela, nada é tão bom sem você do lado, ou do outro lado, para contar as novidades. Para chutar o pé de noite sem a menor intenção de te acordar, mas para acordar mesmo assim. Para te calar com beijos que não terminam. Para pegar chuva na praia em janeiro. Para ouvir chamá-la de "minha mulher" na fila do cinema. 
Mas se não é recíproco, um acaba por fazer de tudo. E ter a responsabilidade por dois é pesado demais. Pois tenha certeza: se você não aparece, ela vai dar um jeito de sumir também. Se você não cuida, ela vai dar um jeito de ser cuidada. Se você não ama, ela vai aprender a se amar sozinha. E quando ela aprender, ah rapaz... Quando ela aprender, ela vai te ensinar que amar não é buscar. É se encontrar. E ela vai se encontrar.


jeudi 1 octobre 2015

Você é alguém que eu vou guardar de qualquer jeito


Você é alguém de quem vou rir sozinha na fila do banco. Alguém que vou ter nos álbuns de foto da infância e da adolescência.  Alguém de quem vou lembrar sempre que sentir cheiro de areia da praia molhada de chuva. Alguém de quem vou contar para os meus filhos, mesmo que eles não sejam seus. Porque o amor ocupa mais da metade de mim. E você foi o meu primeiro. O meu primeiro arrepio, primeiro toque, primeira dor, primeira saudade, primeira volta, primeiro sexo, primeira morada, primeiro... E por isso você é, e sempre será, parte inevitável de mim. Por isso, mesmo que tudo o que somos acabe hoje, amanhã, daqui a 10 anos, ou nunca, o seu nome é o primeiro parágrafo da minha vida. E para contar uma história, a gente sempre passa pela introdução. E de vez em sempre, costuma ser nossa parte preferida. Então mesmo que não moremos em uma casinha amarela em Santa Teresa, com nossos 4 filhos, a minha filha vai saber quem foi o primeiro sonho da minha adolescência. Mesmo que um dia daqui a muitos anos a gente se esbarre e eu te convide para o meu casamento, eu ainda vou lembrar do dia que você jogou pétalas de rosa no meu cabelo e fingiu se casar comigo em silêncio. Mesmo que você se torne um musico famoso e nunca mais possamos nos ver, ainda assim, vou guardar aquela melodia que você fez só para mim, numa tarde de dezembro. E mesmo que o mundo dê todas as voltas possíveis, o tempo da gente não vai mudar. O que fomos e o que somos até agora é inapagável. Estamos guardadinhos para sempre. Você é parte de mim como sou eu sua. Nossa história é recíproca, enquanto nosso amor também for.


jeudi 24 septembre 2015

Sem você, sou um barco sem cais


Eu sei que você está cansado. Mas só faltam alguns segundos de sol dessa terça-feira para anoitecer. E eu voltei alguns meses essa tarde. Fui parar naquela outra, de Janeiro, 17. Somente os discos tocaram e a cor, o cheiro, a temperatura, tudo veio à tona. Não é nostalgia desnecessária, mas fez-se dor e amor ao mesmo tempo. Tempo esse que não vou desperdiçar a explicar-lhe essas palavras confusas. Já gastei demais a buscar teus olhos. E não encontrei. Por isso fugi para o que passou. Para a paz, para a serenidade em forma de euforia que, pensava eu, ser infinita... Acontece que acabei por varrer o confete da nossa folia de outrora. Mas saudade não se guarda em pote, transborda, sempre. Por isso meus olhos devem estar tão molhados ultimamente, quase que numa maré alta infinda. Esse é o pior tipo de calmaria: quando a angústia é silenciada pelo medo. E o medo calado também. Falando em mar, não vou perguntar como vão tuas ondas. Resolvi ir para uma ilha deserta onde eu só fale de mim. E repito, não há solidão pior. Mas tenho escolha? Claro que sim, mas nenhuma que me agrade. Não serei a responsável por naufragar o barco que dediquei tanto tempo e amor a construir. Mas não sou um navio amarrado, meu bem. Apenas fiquei muito tempo por vontade própria ao lado do porto. Mas agora suas paredes são altas e as ondas batem e voltam, e voltando me levam pra longe. E aí, sem corda, sem força e sem cais, vou sendo levada para onde poderás sempre me ver, mas nunca mais me tocar. Nunca é forte, como a indiferença de tua superfície. Mas para não exagerar na gravidade, deixo que tenhas pelo menos a luz do que fomos. Serei teu farol, a milhas e milhas de distância. Pois mesmo que eu não saiba onde estou, você nunca me perderá de vista. Ainda que nunca seja forte demais.



jeudi 17 septembre 2015

Pela última vez


É chato, eu sei. Essa coisa de sempre voltar a falar. Mas prometo que não vou mais fazer isso com frequência. Essa é uma das últimas vezes que lhe escrevo. E não é ameaça nem despedida, meu bem. Apenas hoje me deu vontade. E eu fiz o que amo como há muito tempo não faço. Escrevi com uma caneta em uma folha de papel, o que ando digitando nos teclados. Foi difícil apenas até a hora em que a tinta escapou da ponta. Depois desse primeiro contato, tudo foi fluindo naturalmente. E deu saudade daquele tempo. Daquele tempo em que os rabiscos eram rotina. E por falar em rotina, como vão as coisas? "A gente" sumiu por um tempo... Talvez tenha sido justamente pela falta dele. O que você tem feito? Por onde anda? Com quem conversa? Que músicas tem tocado? Sinto falta, sabe? De ficar horas acompanhando o desenho dos seus dedos no violão. Se eu pudesse, diria que nem me lembro da última vez que o fiz. Mas é claro que me lembro. Porque eu me lembro de quase todos os detalhes e grandezas do que fomos. Lembro até de antes de "sermos" de fato. Mas uma lembrança dessas que apertam o peito de saudade é a sua presença. É ausência da dor de se sentir sozinho ao lado de quem se ama. É o conforto de saber que você estava ali, independente de qualquer coisa, para cuidar de mim depois dos temporais. Só que hoje tenho carregado mesmo uma sombrinha comigo, para o caso de chover. E tem chovido tanto... Mas os compromissos são muitos, eu entendo. Talvez a gente assista TV, sábado à tarde, como costumávamos. Mas, sabe, só quando sua agenda estiver livre mesmo. Não vou incomodar muito mais, sim? Talvez eu até desligue o wi-fi de vez em quando, para controlar a vontade. Mas vou dar meu jeito, não se preocupe. E pouco a pouco, talvez eu me camufle ao teu papel de parede. E talvez eu mesma me desligue de você. Mas não desmarque seus compromissos com o mundo lá fora. Tenho certeza de que são importantes. E se na ida, subir à cabeça que está se esquecendo de uma parte essencial, volte para me buscar, para me arrancar da parede, do cheiro dos lençóis ou de algum disco de música. Mas se não, então vá, só siga em frente. Espero não assistir, caso assim for (meu maior medo é não superar qualquer pesar desse mundo). Não leve à mal, não é egoísmo. É só generosidade de amor próprio. É, eu o encontrei faz uns dias. E ele é tão melhor do que eu imaginava... Suspeito que já o conheça há bastante tempo. Não duvidaria ser ele o motivo dessa coragem de pegar a caneta e falar, pela última vez, que eu te amo. Perdidamente, incondicionalmente, indescritivelmente. E vou lutar por você. Mas se não for o suficiente, junto o pouco que sobrar e adiciono ao prazer de amar à mim. Até porque, no fim das contas, foi você mesmo que um dia falou que meu sorriso era o mais bonito do mundo, não é? Concordo.


jeudi 10 septembre 2015

A porta está aberta


Às vezes penso que você vai pegar a bicicleta e sumir de uma hora para outra. Sumir daqui, da minha vida, do mundo. Ou pelo mundo. E que vai assim, sem aviso prévio, sem flores de despedida ou bilhete na geladeira. Porque você nunca se foi, e começo a achar ser sorte demais tê-lo por tanto tempo. Por isso, penso que um dia vou abrir o guarda-roupas e só vou encontrar aquela camisa sua-minha que a gente divide. Mas não pense que é ideia. Melhor mesmo é ficar. Só imagino ser sonho uma vez ou outra. Que alguma hora terei que sair por aí procurando-o pelas pegadas da sua música. E se lhe alcançar, será sorte em dobro! Mas o que queria mesmo era não perdê-lo para seus sonhos jamais. Queria eu ser seu maior sonho de fato. Já até andei fazendo minhas economias para arranjar uma viagem surpresa para nós dois. Ou para comprar uma casa onde quisermos no mapa mundi. E assim, aos poucos, vou encaixando minha vida na sua, meus sonhos nos seus, inventando espaço onde ainda pode não ter, para caber, com jeitinho, em você. Em você, que já me ofereceu o abraço como moradia e o amor como alimento. Você já me confiou as chaves; só falta entrar em casa. A porta está aberta. Mas se chegar, por favor, fique.

vendredi 29 mai 2015

Ela foi embora.



Ela foi embora. Ouvi dizer que, hoje em dia, ela sempre vai, de todo mundo. Ela desaprendeu a ficar. Cansou. Porque ninguém nunca ficou pra ela, também, ela diz. Tenho aprendido o quão triste é essa coisa de ser quem fica. Porque um dia, eu também fui.

Eu fui e a deixei. Eu não fui valente o suficiente pra ficar porque eu tinha medo desse sentimento que ela me causava. Qual é, caras, vocês devem me entender. A gente não quer se sentir refém de ninguém. A gente gosta de ser livre. Mas, quando eu conheci ela, eu sabia que eu tava ferrado. Ela tinha um desses sorrisos que desarmam qualquer autodefesa, e os olhos dela, ah, os olhos dela. Sempre foi o que mais me encantou. Eles gritavam, mesmo quando a boca dela estava em silêncio. E quase se fechavam acompanhando o sorriso, a deixando parecida com uma dessas japonesinhas que a gente tem vontade de embrulhar e levar pra casa. E eu tinha. Eu embrulhava ela nos meus braços e não queria mais soltar. E ela não se sentia incomodada. Ela se sentia protegida. Com aquela estatura pequena e os olhos escuros me encarando de baixo para cima com toda a doçura do mundo. Ela era doce, mas eu fui amargo demais.

Um dia, ela me pediu pra ficar pra sempre. Enroscada no meu peito, balbuciando de sono. E eu, sempre tão independente e seguro de mim, quando percebi que não fiquei indignado com o convite, surtei. Eu sempre achei tudo isso ridículo. Eu teria sentido nojo e rejeição instantânea por qualquer outra que tivesse me pedido isso. Mas ela pediu e eu nem achei má ideia. Vê se pode? Eu não podia me render assim. Eu tinha uma reputação. Eu tinha as minhas regras. E uma delas era não ficar. Não muito. Não pra sempre. Eu era dono de mim e não precisava que ninguém mais fosse. Então, eu fui embora.

Esperei ela dormir e me desenrosquei daqueles braços tão pequenos. Daqueles cabelos escuros. Daquelas pernas entrelaçadas nas minhas. Olhei pra ela, sonhando, tão inocente, e disse adeus, num sussurro.

Ela já tinha ouvido muito sobre mim. Todo mundo avisou ela. Mas ela dizia que acreditava que eu podia ser diferente. Eu não pude. Eu falhei, de novo. E fui embora. E deixei ela. Eu tentei seguir a minha vida, como fiz em todas as outras vezes que deixei tantas outras garotas. Mas machucar as outras nunca tinha me machucado tanto como fazer isso com ela. Eu sabia que ela era diferente. Eu sabia. Ela sempre me disse que não era como as outras, e ela não era. Ela cantava o dia todo. E ria. E chamava a atenção onde chegava, mesmo tímida, mesmo calada. Ela tinha essa coisa que chamam de presença. Uma doçura, um brilho no olhar. Uma ingenuidade de menina que não sabe ver o mal de ninguém, assim como não viu em mim.

Mas eu fiz questão de mostrar, naquela manhã. Indo embora sem deixar bilhete algum. Eu não consigo imaginar o que ela sentiu ao acordar, mas se doeu tanto quanto me dói hoje acordar sem tê-la ao meu lado, eu sou mesmo um canalha.

Por dias, eu parei meu carro na frente do apartamento dela, tentando ver algum sinal da sua presença. Uma roupa pendurada no varal. Uma carta não lida embaixo do tapete. Mas não encontrei nada. Nem ela. Eu senti tanto a falta dela, cara. Eu saí pelas noitadas tentando abandonar ela em algum canto que não fosse minha memória. Mas a lembrança dela continuava tão impregnada em mim quanto o seu perfume na minha camisa favorita. Que se tornou a minha favorita, justamente por ter o cheiro dela, que tanto me fez falta.

Eu frequentei os restaurantes japoneses favoritos dela e até tentei comer com aqueles palitinhos como ela fazia com tanta excelência e eu morria de rir. Mas eu só queria ver ela lá. Nenhum lugar era o mesmo sem os olhos dela. Felicidade alguma era completa se ela não estava lá pra sorrir também. E eu rio de mim mesmo escrevendo essas coisas e me achando patético, mas eu não me importo mais. Foi por medo de ser patético que eu a perdi. Que eu seja o maior pateta desse mundo aos olhos de qualquer outra pessoa, se ela voltar pra mim.

Se você a encontrar por aí, diz que eu sinto muito. Diz que eu sinto tudo. Eu sinto o arrependimento. Eu sinto a saudade. Eu sinto a falta e o medo. Diz pra ela que ela sempre foi muito melhor do que eu, e que, se eu não tive dó em deixá-la, que ela tenha dó de mim sem ela. Porque eu fico um trapo, cara. Eu fico vazio.

Depois de meses ansiando rever seu rosto, eu a vi, num dia desses, no mesmo botequim que a conheci, tão deslocada e perdida naquela noite de verão. Mas, agora, ela estava diferente. Ela não parecia mais vítima do ambiente, mas o dominava. Ela ria alto e usava batom vermelho. Ela passou pela porta de saída acompanhada com um cara boa pinta e quando esbarrou os olhos em mim, sentado do outro lado da rua, sua expressão mudou imediatamente. Seus olhos, antes iluminados, me encararam apáticos e tristes. Sobretudo, como sempre, ela conseguiu ser doce, porque, mesmo depois de tudo, seu lábio se inclinou ligeiramente em um sorriso de boca fechada. E depois de cinco segundos, seu olhar se desviou da minha direção para entrar no carro do cara que lhe abria a porta, com todo cavalheirismo que eu nunca tive.

Ela foi embora. Dizem que, hoje, ela sempre vai. Ela foi a menina que me transformou em homem. E eu... Fui o cara que causou a dor que a fez virar mulher. E que mulher.



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