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mercredi 11 juin 2014

Entorpecido

São 1: 15 da manhã, estou um pouco bêbado
E eu preciso de você agora, disse que não ia ligar
Mas perdi todo o controle e preciso de você agora
– Need you now, Lady Antebellum
Certo dia resolvemos nos encontrar, todos os nossos amigos, na casa de uma amiga nossa. O sol ainda se manifestava, intenso, peguei meus óculos quando recebi a mensagem que minha carona já me esperava. Eu nunca fui fã de camisas pólo ou coisas sociais do tipo, por mais que, confesso, me ache irresistível de terno. Eu estava com a minha camiseta vermelha escrita Bazinga!, chinelos e bermuda. Pouco importa, porque de fato é bem difícil eu me importar com alguma coisa. Chegamos relativamente cedo e os outros foram aparecendo aos poucos.
Eu não lembrava desses detalhes até estar aqui, onde estou, abraçado com ela.
Mas minha mente, em um turbilhão de descobertas, me trouxe a esse dia descompromissado. Ela chegou com mais umas três amigas, não sei ao exato. Ela tem amigas lindas. Meus amigos pegariam todas, alguns inclusive já beijaram uma ou duas delas, não que fossem fáceis ou algo assim. Na verdade, todas elas são bem simpáticas, receptivas e ok, têm um estilo bem legal. Não que eu quisesse uma garota toda vaidosa e preocupada sendo eu, bem, esse cara desleixado que resolveu deixar os pelos faciais crescerem. Mas elas chamavam a atenção, eu sei disso.
Nesse dia, ela estava com uma saia jeans que inevitavelmente valorizavam o belo par de pernas dela. Ela não parecia se preocupar se olhavam ou não. Ela cumprimentava todos, com o mesmo sorriso no rosto, que não necessariamente era automático, tinha algo naqueles olhos que eu gostava. Ela chegou perto de mim e se esticou para alcançar meu pescoço. Eu sempre gostei da forma como ela me abraçava, que envolvia os seus dedos finos pelo meu cabelo durante um breve segundo. Ela também tinha um perfume maravilhoso. Mas ok, ela continuou a fazer seu papel social pela roda de amigos.
Eu estava ali para beber, como eu sempre estive.
Vamos lá, eu já passei dos 25 e a loira gelada é a companheira inseparável de todos os homens da minha idade. Era bem difícil acontecer qualquer coisa além de eu ficar bem bêbado. E quando tinha rolado de ficar com alguém, eu tinha que perguntar para os meus amigos se eu tinha beijado a fulana mesmo. Na maioria das vezes, senão todas, era como se eu não tivesse feito nada. Não sabia o sabor dos lábios, do toque, da pegada. Nem se, você sabe, eu tinha levado alguma delas pra cama.
Já era de noite, quando um dos meus brothers pegou o violão para tocar, o que era uma tática infalível para conseguir uma das meninas que estavam lá. E, sem eu saber, era a Mari que ele queria. Por algum motivo, talvez da pequena distância entre nós, ela me ofereceu seu colo. Eu aceitei, é claro, o seu convite gentil. Não mais que trinta segundos depois, seus dedos começaram a passear pelo meu cabelo. Sempre gostei de cafuné e essas coisas, mas faça o favor, não me venha com pensamentos de viadagem. Ela era delicada, suave como os cabelos da deusa Vênus e marcante, por ser diferente de um jeito só dela. Suas mãos já alcançavam a minha barba, o contorno da minha boca e o meu pescoço. A sensação do seu toque era tão incrível que até meus hormônios, momentos antes anestesiados pelos incontáveis copos de cerveja, se manifestaram. Senti meu sangue aquecer meu corpo, minhas partes (cada uma delas) e minha racionalidade. Resolvi largar o copo. Não sei por quanto tempo fiquei ali. Ela sussurrou que precisava fazer uma ligação e eu assenti, levantando do seu colo, sem agradecer, sem deixar nada claro, nenhuma tentativa, nada. Mas assim que Mari voltasse, eu me prometi, tomaria alguma atitude.
Ela demorou um tempo e nisso meu amigo deixou que outros tocassem no seu lugar, e sem me perguntar se eu queria algo com ela, disse que ele estava disposto. Que eu não atrapalhasse os planos dele. Eu sequer sabia que ele reparava nela, mas como ele era meu brother, apenas concordei. Sabia que era difícil ela aceitar certas coisas assim entre tantos amigos para testemunhar, até porque ela não bebia. Assim que ela voltou, sentou-se onde estávamos, só que eu tinha escolhido ficar distante, por respeito ao que meu amigo tinha dito. Ele falou sério, o que eu não via há muito tempo... Na verdade, a única vez que o vi tão firme foi quando ele me contou que iria pedir uma menina em namoro que, por sinal, foi uma das suas poucas namoradas e a única que durou mais de um mês. Mari me olhou como quem estivesse magoada pela separação e eu fiz que não entendi. Meu copo já estava em minhas mãos novamente quando vi meu amigo chegar cada vez mais perto dela, numa conversa que não lembro quanto tempo durou, mas que minha memória se recorda do final: ela não quis nada com ele.
E assim essa noite se foi, com lembranças ralas e entorpecidas. Noutras tantas vezes nos encontramos, porque somos quase-amigos. Nossos amigos são amigos. Meus amigos são amigos dela. As amigas dela são amigas dos meus. Ela é amiga de amigos meus. Mas não sei, não somos exatamente amigos. Sendo honesto, eu já pensei muito em ir mais além com ela, mas isso não importa, sabe por quê? Eu tive medo, em todas as oportunidades, confesso. Ela sempre foi amorosa demais, astral demais, amiga demais, inteligente demais. E eu não sei se você já conseguiu entender onde quero chegar, mas meu medo é de me apaixonar. Talvez eu contivesse meu entusiasmo, mas e se mesmo entorpecido com álcool sentisse tantas sensações se aflorarem? Fica difícil ser macho-alfa do lado de alguém que quebra suas máscaras de pegador-bebum-insensível-feliz, e foi exatamente o que ela começou ao fazer naquela noite, com um cafuné. Eu me pergunto que merda é essa que ela tinha que um carinho no meu rosto me deixou tão excitado...
Coisa que às vezes eu precisava de muita concentração para conseguir com certas mulheres.
Eu me mantive firme na minha postura. Eu não a beijaria por segurança emocional. Eu já sabia do final disso sem nada ter acontecido, mesmo bêbado, mesmo pensando duas vezes: eu tinha certeza dos riscos. Eu me viciaria nela. E eu não precisava de um novo amor (se é que já existiu um antigo). Eu me satisfazia com sexo sem compromisso, esporádicos, momentâneos. Mas ela não era assim, pelo menos não seria para mim, quer dizer, se um dia eu a tivesse.
Na última vez que encontrei com ela foi em um churrasco. Ela estava incrível. Fatal. Tinha cinco minutos que ela chegara e eu já tinha pensado nela milhões de vezes. Reconstruí seu sorriso na minha mente quando estava de costas. Observei bem a camisa jeans aberta até abaixo do busto, deixando aparecer um corpete de renda e já imaginei o conjunto todo. Virei mais um gole de cerveja no desejo de esquecer o que eu objetivava ao vê-la caminhar perto de mim. Fui um dos últimos. Na hora, não quis nem olhá-la nos olhos, era tão claro que ela entenderia todos os meus pensamentos. Mas outra coisa ela percebeu: o meu medo de me aproximar muito dela, todo tanto seria suficiente. Eu deveria ser pegador-bebum-insensível-feliz em tempo integral, mas se você pensou na primeira parte de ser pegador, as outras três partes seriam um desastre com ela. Mas pouco pareceu se importar com a minha frieza.
A noite correu. O álcool já estava bem elevado no meu sangue. Mari dançava, livre. Ria com as amigas. Tentava cantar os sertanejos que só ela não sabia. Se arriscava na coreografia da música. Se contorcia ao ritmo da batida, sem se preocupar se estava sendo sexy ou não. E irresistivelmente estava. Era tarde, bem tarde, quando ela se aproximou de mim. Fui pegar uma garrafa no freezer, que estava em um canto escuro e me acompanhou ao meu lado sem nada dizer, até que me estiquei para tirar a tampa da cerveja em uma das vigas.
– Tem um abridor logo ali. – ela me apontou o objeto numa mesa mais adiante e eu não respondi, tentando desvencilhar minha mente com a proximidade dela e me manter concentrado em nada fazer.
Fez-se silêncio. Ensurdecedor, por sinal. Ela não percebeu, mas eu tremia. O ar entrava pesado em meus pulmões. Era uma sensação inédita. E não vinha só da carne.
– Vamos ali comigo – Mari me segurou com o olhar, pegou no meu braço com firmeza e pressionou os lábios e eu entendi. Entendi tão bem que era difícil pensar duas vezes. Eu fiquei sem reações. Achei que ela simplesmente me deixaria ir, mas não, era tudo ou nada. Quisera eu ter mais três minutos para pensar, mas ela não me permitiu: – Eu não vou te chamar duas vezes.
Fiquei estático, imóvel, apático. Que merda é essa? Eu me perguntava, não pelo convite, mas por eu mesmo. Se fosse qualquer outra, eu já tinha beijado logo ali. Ou até procurado um quarto qualquer na chácara de uma vez. Mas ela, ao mesmo tempo que me convidava, também me impedia.
Ela não demonstrava impaciência, mas seus olhos esperavam um sim.
– Tá bom Mari, espere aí.
Fui servir meus amigos e ela já não estava mais ali. Ela era esperta até demais para entender o sentido de "esperar". Ela não falou mais nada, sequer me olhou ou demonstrou que aquilo foi a gota d'água para ela. Hora alguma se aproximou de outros caras para me testar ou fazer ciúmes, coisa que se ela fizesse eu cairia feito um babaca. A noite seguiu. Ela dançava com um copo de suco na mão, sem vodka, eu imagino. Mas fiquei a observá-la. Arrependido do que eu fiz. Do meu medo de tê-la. A minha resposta não fora um não para ela, mas para o que eu poderia sentir com ela. E para isso eu definitivamente não estava preparado. Bebi dez ou mais doses de uísque para tentar esquecer os efeitos dela em mim. Ela foi embora, discreta, sem se despedir de muitas pessoas. Esse último encontro foi há semanas. E eu não consegui pensar em outra pessoa.
Antes de ontem, recebi uma mensagem de um número que não estava salvo nos meus contatos. Muito breve, gentil e cuidadosa a pessoa foi ao dizer que soube do estado de saúde de minha mãe. Ela me desejou força e me disse palavras de apoio. Ao salvar o número, que não fez questão de se identificar na mensagem, apareceu a foto da Mari. E naquele segundo me senti um virgem se descobrindo na puberdade. Quis mandar a conversa para os meus amigos me ajudarem a responder, mas logo percebi que eu não tinha contado a nenhum deles a respeito dela, sabe como é, eles poderiam forçar mais ainda que rolasse algo entre nós. Eu estava um pouco impressionado. A diferença de idade é relativamente considerável entre nós e ela se mostrou madura demais. Até porque, depois daquilo, ela poderia, sei lá, fingir que eu não existia, me ignorar ou postar indiretas. Mas não. Ela fez por mim o que poucas pessoas fizeram, me deu suporte em um momento delicado. Eu a agradeci sem demonstrar toda a gratidão que senti e ela me desejou uma boa noite e breve se foi, sem ter a intenção de ali iniciar uma conversa. Ela só comprovava a cada gesto o quanto ela era incrível. O que eu já sabia.
E chegamos ao momento presente.
Estamos em um pub. Pouco antes a vi chegar, sozinha. Ela estava pensativa e olhava o celular sem tocá-lo. Ela estava muito séria e isso me deixou angustiado. Eu não desgrudei meus olhos dela, mas ela continuava a olhar o aparelho fixamente. Até que um rapaz a abordou e ela ergueu os olhos. Isso me deixou fraco. Se ele tentasse beijar a minha Mari eu estava bem disposto a bater nele. Quem não via a fragilidade no seu olhar? Ela é forte, sei disso, mas hoje ela está diferente. Melancólica e vulnerável. Ele começou a falar com ela, passando o braço pelos ombros, e logo ela se afastou do toque. Ele insistiu em envolvê-la até que ela levantasse para sair de perto. Ele a segurou pela mão, e senti a força nos pulsos fortes do homem. Eu morri por dentro. Dilacerado. Meu corpo já estava em movimento quando eu a vi desvencilhar do canalha. Recuei meu impulso e esperei ver para onde ela ia. Ela seguiu para o bar e fui até lá. Meu peito vai a mil. O barman se aproxima dela.
– A bebida mais forte que você tiv...
– Mari! – eu exclamo surpreso e ela pula da cadeira. – você ficou louca? Você sequer bebe! – completo, perplexo – Ei, amigo, ela não vai beber isso aí, obrigado, e eu não quero nada por enquanto.
Ela me olha com as sobrancelhas erguidas e os lábios formando um pequeno 'o'. E nem eu mesmo consigo entender que força vital era essa que me colocou aqui.
– Ah, você.. – ela já não me olha, na verdade, ela não parece estar olhando nada – Como você está?
As palavras saem da boca dela quase cortantes. Sua voz dói e eu quase posso sentir o que está nela. Como se fosse um vidro translúcido e nada mais.
– Estou bem, Mari. Mas você não. Não sei o que você veio fazer aqui, mas vamos conversar.. Eu.. eu acho que posso te ajudar.  – por um segundo quase vacilo, mas minha mente reforça a minha covardia, aquela grande bobagem que não está muito firme neste segundo.
Ela não me olha e parece segurar o que está dentro dela. Sinto que ela faz uma força demasiada para conter tudo o que está dentro de si. Os sentimentos a sufocam tanto que ela respira sem fôlego, em busca de um ar que oxigene não o seu corpo, mas a sua vida. Eu tenho a vontade de suprimir essa necessidade, mas eu sinceramente não sei o que fazer. Se eu fizer, não sei, posso estragar tudo. Ela pode achar que estou me aproveitando da sua fragilidade. Mas ela não me vê assim, vê? Seus  lábios se movimentam, mas as palavras não saem. Por um momento, me precipito a imaginar o que ou quem a deixou desse jeito, mas as possibilidades eram tantas que por fim escolhi esperar.
Sabe, ultimamente tenho me sentido, sei lá, estranha. Eu fico meio aérea, perdida, não sei explicar, é como se eu soubesse exatamente o que me desprende da realidade e não pudesse fazer nada. – ela segura a respiração e hesita – E vou te falar, tem tudo a ver com você. Você consegue acreditar nisso? Que estou falando das minhas angústias com o causador de todas elas? Engraçado como as coisas são.. – ela ri, sem necessariamente achar engraçado, até porque essa seria uma graça muito amarga – E se você está se perguntando o porquê de eu te envolver nessa confusão quase pré-adolescente, mesmo sendo tão adultos, eu te conto. Você sabe, a gente já se conhece há um bom tempo, mas de um meses a sua aproximação me fez bem. E no dia do luau eu senti uma paz imensa com você, naquele gesto tão simplório, de acariciar seu rosto, sua barba. E é estranho pensar nessa mudança toda, porque é difícil eu me encantar com alguém. Tu me deixou arrepiada e pior, foi do lado de dentro. Eu me lembro de ter que atender uma ligação e quando voltei, você não estava mais lá, no lugar que estávamos. – é aqui que todas as lembranças se reavivam, e eu me recordo de cada momento que tive ao lado dela e passo a entender o meu papel patético diante de uma mulher tão incrível – em poucos minutos o seu amigo veio conversar comigo, nada que você não tenha visto, eu não queria ficar com ele. Meus pensamentos estavam em você. Mas sabe o que me surpreende mais? Temos tantos amigos em comum, tantas amizades próximas e não sei o que é isso que impede a nossa aproximação. Só sei que me incomoda. Dói onde não deveria existir dor. Eu me importo com você sem você ter me dado motivos para isso. Me diz, eu sei, é tudo loucura da minha cabeça. – ela me olha a espera de uma confirmação que fosse, e eu apenas abaixo o rosto envergonhado, confesso, pela minha atitude, e faço que não com a cabeça  – Naquele dia do churrasco eu te chamei para ir em um lugar comigo. Eu não sabia nem onde iríamos e sequer acreditava que estava te chamando para um canto qualquer. Mas eu precisava te entender. Eu quero te entender! É irônico demais pensar que o único cara que mexe comigo é o único que não me quer! Isso é tão idiota, não é? Até porque eu não lembro das circunstâncias que me deixaram assim, mas tenho toda a certeza dos meus sentimentos, por mais que a confusão permaneça intensa. Mas acontece, já aconteceu tantas vezes comigo de eu não querer alguém que estava interessado em mim. E quando por fim aparece você para me mostrar o contrário eu me machuco desse jeito. – a sua voz embarga, e então sinto que ela está conseguindo tirar aquele peso interior – Entenda, eu não te suplico nada, nem mesmo que me ouça. Eu só acho injusto que você tenha me deixado assim, sem a intenção de me fazer feliz. Se é para me quebrar as partes mais sensíveis, então que haja uma boa justificativa. Se não for para ser, me deixa seguir, me deixa achar meu rumo. E eu prometo, prometo que nada mais que venha de mim será para você. Só me tira essas dúvidas, essas incertezas, me deixa te entender. – ela limpa a primeira, única e última lágrima que tenta timidamente descer pelo seu rosto, e respira fundo, e eu posso sentir que são suas últimas palavras e será tudo que eu preciso ouvir – Você lembra de me dizer para eu te esperar naquela noite? Eu ainda te espero.
Ela me pegou desprevenido. Me tirou todo o disfarce. E eu estremeci por dentro. Destruiu meu ego. Minhas quatro características sumiram. Aquele era eu, nu, cru e transparente diante dela. De repente, descongelou em mim o coração, então inquieto. Foi-se o último miligrama de álcool. Quis chorar, meu medo latejava. Eu não sabia viver sem a fortaleza de mim. Mas percebi que o frio de todos os copos não aqueciam como a presença dela. Minha pretensão era ser indestrutível, mas aquela voz suave, quase rouca, me desestruturou. A culpa era quase minha. Fui covarde e pequeno. Seus olhos me pedem um pouco mais de atenção. De um carinho e um cuidado que sempre tive vontade de oferecê-la, mas sempre impedido pelo medo. Não sei ao certo o que posso dizê-la, mas agora sei que devo a ela pelo menos dois mundos, quem sabe até o sol. Tenho vontade de expressar toda a minha gratidão a ela por enfim, mesmo que tão tardiamente, me fazer sentir homem pela primeira vez. Mas estou estático, sem qualquer possibilidade de reação que me faça coerente e bom à mesma altura que Mari é. 
Me aproximo, sem pressa. E então, já estamos envolvidos e não me interprete mal, é só um abraço. Por mais que haja um relance impulsivo de beijá-la e possui-la, eu me basto em acolher seu corpo, que eu bem sabia que quando de mim precisara, eu neguei. Agora eu me sinto entorpecido por uma substância nova, que dispensa álcool e só pede mais contato, menos centímetros entre nós. Não consigo perceber o tempo, mas a percebo, suave e quente, entre os meus braços. Não sei se verbalizei, mas na minha cabeça um obrigado por me fazer melhor se repete indefinidamente. Ela levanta o rosto para olhar nos meus olhos, e sorrimos em sincronia. Eu a aperto mais forte, sentindo sua pele arrepiar. Ainda assim, é só um abraço que... quem sabe eu espere que seja para sempre.

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jeudi 27 février 2014

Playboyzinho

"Quase tudo de que lembro, me dá certeza 
que eu devia ter te impedido de passar porta afora
Você poderia ser feliz, eu espero que você seja"
– You could be happy, Snow Patrol
O erro não foi deixá-la partir. Mas deixar que partisse quando o amor já não existia mais. Nela.
Não nos conhecemos em nenhuma das baladas que eu frequentava. Ela até sabia o meu nome, mas não por bons motivos. A primeira vez que tinha ouvido falar ao meu respeito foi por eu ter batido em um cara otário que, por ventura, ela conhecia. Eu não a encontrei na mesa de um bar, bebendo sozinha – ela sequer bebe, e isso nem faz diferença, faz? Não esbarrei nos seus livros pelos corredores do colégio porque fui expulso da maioria deles. Mas certo dia, na padaria próximo a minha casa, ela estava atrás de mim na fila e deixei que ela passasse na minha frente. Não sei exatamente o que me passou na cabeça, mas tinha algo nela que mexeu comigo. Ela agradeceu e pediu o último sonho de doce de leite, que, por coincidência, era o que eu queria. Disse a ela, entre uma risada pouco frustrado, que eu também pediria aquele doce. Constrangida e entre meias palavras ela me disse que dividiria comigo por eu tê-la deixado entrar na minha frente.
Foi, então, que ela entrou também na minha vida.
Pontualmente, passei a ir na padaria na esperança de ver aquela garota, que nem nome eu sabia. Para ser bem honesto, estava bem disposto a aproveitar da aparente inocência dela. Já planejava comprar alguns sonhos de doce de leite e chamá-la para comer comigo na minha casa, e seria bem fácil. Afinal, era eu um cara arrumado, com um perfume envolvente, evidentes bíceps frutos do treino, sorriso arrasador e um bom papo. Eu tinha qualquer garota na minha mão. Até que ela me colocou na dela.
Ela não aceitou o meu convite na primeira tentativa, mas já me sentia vitorioso ao saber o seu nome e que era a sua avó quem morava perto dali. Os lábios grossos e o olhar reluzente me cativava, ainda que ela não fosse a mais gostosa do mundo. Ela estava muito longe de ser uma daquelas garotas populares. O coque mal feito e a blusa desbotada já denunciavam que ela pouco se importava com o que pensavam dela, e isso não a fazia feia. Ela era linda até demais. Não a vi mais por ali, mas insisti até conseguir o seu telefone.
Saímos umas dez vezes. Só pela sexta vez que tive coragem de tentar algum avanço. Me senti estranho ao perceber que tinha medo de assustá-la ou perdê-la de alguma forma. Engraçado como tudo tem sua primeira vez. E foi ela quem me fez viver o que era inédito para mim. Deixei de encarar a bunda das meninas mais gostosas e passei a ser um pouco mais homem. Mas eu sei, sei que não deixei de ser meio otário, um playboy com pouca habilidade emocional, apenas sexual. Era um babaca que de repente encontrou um norte, só que tentava se negar o rumo que as coisas estavam tomando. Ela, por outro lado, nem parecia demonstrar sentimento. Até que um dia desses, enquanto eu segurava a sua mão sem qualquer expectativa de que ela segurasse a minha, ela o fez. Entrelaçou os dedos finos, com as pontas pintadas de rosa-quase-vermelho, na minha mão. Pode parecer viadagem, mas aquilo me esquentou todo e em todos os sentidos. Porra, aquilo estava saindo dos meus controles. Porra, era só uma mão feminina na minha. Ela sequer me sorria maliciosa. Ela sequer sorria. Parecia satisfeita, apenas. Eu estava enlouquecendo com a forma que ela me fazia sentir. Sonhei com ela todos os dias.
Sonho até hoje.
Até que tomei a maior atitude da minha vida. Roubei-lhe um beijo. E inevitavelmente me senti um corajoso, um inconsequente, mas um completo realizado ao ver que ela correspondia. Ela que me guiou, no seu jeito de pouca urgência, num beijo terno que me permitiu senti-la, miúda na sua timidez, o quanto ela me fez grande. Me fiz alguém. E nem sei o que fiz por ela. Só sei que com ela queria que fosse tudo certo, na sua vez, no nosso tempo. Certamente me instigava o seu silêncio, mas percebi que o barulho de todas as garotas que eu me relacionava eram de fato um incômodo. Ela era praticamente a primeira garota-mulher-de-verdade que eu levei para que meus pais conhecessem. E quando fui apresentado aos dela, a pele fina do seu rosto permaneceu rubra, constantemente rubra. E reparei bem: apesar de tão envolvido nela, eu me desdobrava para fazer acontecer. Ela parecia deixar fluir. Queria contar a ela boas histórias. Ela se dava por completa apenas me ouvindo. E saquei que ela me deu poucas chances de conhecê-la. E ainda assim, eu me apaixonei por ela.
Então, este foi o tempo do nosso amor. Eu a observei nos seus mais simples movimentos, nas suas mais singelas atitudes. Eu amava a sua existência. Meus amigos diziam que eu estava viciado e, caralho, viciado em uma garota. O melhor de tudo era que eu não procurava uma cura. Descobri que ela gostava mais de ricota que mussarela. Cólica a deixava com dor de cabeça. Aos domingos de manhã ela participava de projetos sociais. Era mais fácil ela aceitar uma ameixa que morangos, por mais que comesse das duas. Queria conhecer a Disney. E se pudesse, seria bibliotecária para ler a vida toda. Ela amava moletons e nunca teve uma lingerie, até que eu comprei o seu primeiro conjunto. E, maravilhado, a vi usando pela primeira vez.
Ela era serena. Não se atentava às meninas que ainda se ofereciam para mim. Ela não discutia, até porque não era necessário. Era certo ela pensar que eu tinha mudado, não era? Acontece que eu não mudei. No fundo, eu era o mesmo playboyzinho de merda. Só estava apaixonado. E sei lá, às vezes eu me esquecia disso. Esquecia-me de que ela se fazia presente, ainda que com poucas palavras. Ela sempre se bastou delas. Nunca me investigou. Se tinha ciúmes, não demonstrava. Era simplesmente segura de si. Eu estava bem.
Até que o mundo lá fora começou a me chamar de novo.
Passei a dar moral às gostosas que ainda insistiam em mim. Ia às baladas, com ou sem ela. Voltei a sair com frequência com os brothers. E me senti mais livre, mesmo sem nunca ter ficado preso. Tão livre que na minha mente fraca, eu tinha o livre arbítrio para me relacionar com quem eu bem entendesse. E numa oportunidade qualquer, traí, como o otário que sempre fui. Traí uma, duas, dez, quinze vezes. Ela jamais me questionou, mas eu tinha certeza da sua sensibilidade. Eu estava diferente. Aliás, eu só voltei a ser eu mesmo. Um playboy de-você-sabe-de-quê.
Entre eu e ela o tempo não era cronológico. Não necessariamente morremos a cada dia. Às vezes ela conseguia resgatar o amor singelo e transparente que existira. Mas nem sempre eu estava disposto a dedicar meu tempo, tão precioso tempo, àquela garota, de poucas palavras e de muita delicadeza. Não era suficiente porque eu sou um completo babaca, um ignorante de cabeça vazia e carne cheia.
Até que ela descobriu.
E sem nada dizer, ignorou minhas ligações e todas as minhas tentativas de contato. Fiquei na porta da sua casa, escondido atrás do carro, na padaria, na porta da casa da sua avó. Ela não me notava e eu sequer tinha coragem para segurá-la pelo braço e dizer-lhe tudo que me consumia o sono, o espírito e a calma. Só então caí na real do tamanho da burrada que eu fiz. Toda a minha dedicação foi destruída pelo cara mais idiota do mundo. E eu, eu mesmo, fui responsável pela auto-destruição, por achar que ela era pouco para mim e que eu era demais para ela. Engano meu. Sorte era poder tê-la na minha vida. Ela foi tudo que eu sempre quis e não soube que tive. Só hoje sei que faria diferente, porque eu a perdi para sempre. Eu deixaria de ser esse insignificante playboyzinho de merda para ser o príncipe dela, ao menos merecê-la. Nada disso importa mais.
Pudesse eu ter lido o futuro.  
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vendredi 20 décembre 2013

Madrugada

Dia 20 – Crônica
Acho que devo ir – ela diz, incerta, na verdade sem vontade alguma de sair dali. Enquanto isso, ele apenas sorri, até porque a respiração ofegante não o permite muito mais que curvar os lábios. Ela tenta se concentrar, em vão. Seus olhos permanecem fixos nos lábios dele, ainda cheios do batom dela. Ela tem certeza de que ainda há um fluxo, uma energia atrativa tão grande entre eles, que esse breve espaço entre eles quase a engole por inteiro.
Eu diria em sintonia, mas na cabeça dele é apenas desejo.
E na dela... Bem, ela ainda tenta compreender. Respira, uma coisa de cada vez, tente raciocinar, ela mentaliza. As mãos delicadas se desencostam do blazer dele e vão direto às têmporas. Ela acredita que esse pequeno gesto tem alguma magia para que ela se concentre. Impossível, ele sequer deixa que os seus dedos permaneçam ali por alguns segundos.
– Deixa disso. Ainda está cedo, fica aqui comigo. – ele abaixa o tom de voz e toca sua nuca com leveza. E de repente ela se vê, mais uma vez, alheia ao tempo. O silêncio prevaleceu e ah, posso dizer que o encaixe perfeito também. Eles se gostam, mas jamais pensaram em verbalizar. Até porque não era necessário, o corpo por si só respondia a todas as perguntas não ditas. E diga-se de passagem, eu não saberia definir o que são: eles, talvez, nem pudessem ser rotulados de qualquer coisa, no máximo dois corações na mesma frequência. O compasso dos corpos, ao descompasso dos minutos, pede mais há muito tempo. Ela tenta se negar ao que quase certamente surge entre eles, mas sinceramente? Ela nem quer que isso acabe. Então se entregam.
– Eu fico – ela diz, quase inaudível, sem nem abrir os olhos. No íntimo da sua alma, ela se questiona: o que eu estou fazendo?
Ele sorri com os olhos. Ela nem se lembra como era se sentir assim, tocada. E não no sentido físico, mas emocional. O vento bate forte contra as suas costas e isso a deixa arrepiada. Mais ainda. Ao mesmo tempo, uma sensação inigualável a invade e sem pensar duas vezes, com o olhar vidrado nele, diz:
– Para sempre.
Ele a olha, tentando entender. Os olhos amendoados pediam uma resposta imediata.
– Talvez eu ficaria aqui com você. Tipo para sempre.
No mesmo instante, ela se sente estranha por ter dito tanto. Para quem nunca foi de demonstrar afeto, foi quase um eu te amo. Quase.
O rosto dele vai do sorriso a uma semelhante dúvida. A angústia começa a incomodar o peito dela. Não vai falar nada? Ela pensa.
– Então vem comigo. – ele diz, seguro e certo de si. E não vão para muito longe dali. Em poucos minutos, chegam a uma praça, de dia talvez bonita, mas de noite sem qualquer atrativo, a não ser uma brisa suave que vem fria por causa do pequeno curso d'água que passa pela área. Ele a guia até uma árvore, bem próxima à agua e ali se sentam. Ele nem se importa de sujar o vestido, até porque ele a faz se sentir bem do jeito que ela está, na madrugada escura, com a maquiagem borrada e o penteado já frouxo.
Ela se aninha no seu colo e aprecia o pedaço de natureza diante dos seus olhos. Inevitavelmente, aquela atmosfera a faz mais pensativa e envolvida no calor que emana dele. O frenesi da sua pele a deixa em completo fascínio.
– Eu não deveria estar aqui. Estou tão bem contigo, mas eu preciso ir.
Ele insiste mais uma vez para que ela fique. E ela entende – nós queremos estar aqui.
Por um breve momento, seus olhos pesam e ela se desconecta do aconchego. Ele continua a brincar com as mechas espalhadas no seu colo.
Ele a beija suavemente e isso a desperta do sono. Quanto tempo se passou? Horas?
– Olha para o céu. – ele diz – Está amanhecendo. O sol logo surge. E nós.. – ela o interrompe com os dedos nos seus lábios e o beija.
– Nós estamos surgindo também.

samedi 5 octobre 2013

Ela disse adeus

"Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor." 
– Vladimir Maiakóvski
– Sinto muito.
É tudo que ela diz, antes de me olhar uma última vez, incisiva e decidida. No fundo, nem sei se ela realmente sente muito, sequer sei se ela sente qualquer coisa. E eu já perdi as contas, não consigo me lembrar da primeira vez que tentei decifrá-la. Confesso, ela fica um charme toda brava e cheia de si. Foram tantas situações como essas que no fim fracassei. Eu tentava achar respostas onde só tinham perguntas.
Quando você vai me apresentar aos seus amigos?
Vamos fazer alguma coisa hoje?
Por que você está diferente?
Você me ama?
É difícil, rapaz. Acho tão cansativo filmes de romance justamente por isso: desde quando a vida te entrega um script? A verdade é que antes de você derrubar os livros da garota mais gata do colégio você vai desviar ou, sei lá, nem vai ser uma garota, mas aquele valentão pronto para te socar até doerem os dedos. É tudo ilusão, cara. O que chamam de amor, por exemplo, é a maior fantasia de todos os tempos e eu não consigo entender como esse ser insaciável persiste no interior de almas sensíveis. É curioso se você parar para pensar, eu bem acho que todo cara, do tipo homem com h maiúsculo, tem direito de sentir isso aí. Mesmo que a seleção natural explique a fragilidade dos menos adaptados. É por isso que agora não sei se vou ou se fico. 
Se deixo o meu orgulho de lado ou se eu a deixo ir.
Eu fico.

Na verdade, o turbilhão da minha mente não me permite mover muito mais do que meus olhos nervosos. Eu assumo os meus erros e concordo, cara, ela tem todo o direito de estar brava, ainda que em muitos – e não foram poucos – momentos estive prestes a perder a cabeça e, por consequência, também perdê-la, mas eu voltei atrás. Estupidez minha e que nem de longe era motivo suficiente para deixar a garota que mais se encaixou nos meus planos encontrar um outro cara para preencher os dias dela. E eu assumo em pensamentos, de peito escancarado, mãos trêmulas e cabisbaixo: ela me tem. Só não entendo a gravidade das minhas ações. Tenho quase certeza de que sou um erro na vida dela. E é isso que me mantém do lado de cá dessa porta. Eu até consigo imaginar onde ela está ou para onde pretende ir. Eu pedi tantas desculpas que perdi as contas. Talvez ela entenda o meu arrependimento e a minha tentativa de, mais uma vez, consertar as minhas burradas. Mas simplesmente não é justo, sabe? Tem tantas interrogações por trás dela que nem sei mais se eu cheguei a conhecê-la. Quando eu achei que ela tinha se entregado a mim, satisfeito por conquistar sua confiança, ela me vem com uma tristeza de inúmeras arestas e que, confesso, não sabia nem por onde começar a aparar. Um chocolate, talvez? Um abraço?
E, adivinha, nenhuma reação.
Fiz de tudo e mais um pouco. Dei o meu melhor para colocar um sorriso no rosto dela, mas nem assim. Fiquei sem respostas e até já estava me acostumando com a falta delas. Hoje, de repente, ela me chega com o rosto inchado, com lágrimas gordas por debaixo dos olhos amendoados e as mãos em punho. Antes mesmo que eu pudesse perguntar o que tinha acontecido, ela me atinge com palavras carregadas de um sentimento que nem quero saber qual é. Ela preferiu seguir um script mental de frases pré elaboradas e, bem, ela conseguiu me acertar em cheio, tanto que dói como uma ferida. E ela tinha razão, por muitas vezes eu desejei outras, não ela. Mas entenda, por favor, eu estava desesperado. A questão não era desistir dela, jamais, mas cogitei desistir de nós. De início, eu estava disposto a cuidar da gente, mas quando vi, já estava pensando em gente demais, menos na nossa gente, única e exclusivamente em nós. Para ser sincero, nem sei onde eu estava com a cabeça. Eu realmente me perdi e a última coisa que eu posso perder é ela.
Abro a porta, impetuoso, desço as escadas pulando degraus. Talvez eu consiga alcançá-la em poucos minutos, ela veio a pé. Estou cansado – não quis esperar o elevador e 12 andares correndo é uma maratona para alguém como eu – e vejo que ela não foi muito longe. Tento sorrir por encontrá-la sentada do outro lado da rua no meio-fio, mas meu desejo de transparecer algum alívio desaparece assim que me aproximo e a encontro em um desespero que eu nem sei mais o que significa. Ela levanta os olhos vermelhos assim que me agacho a sua frente, mas não consegue sustentar o meu. Ela parece ignorar a minha presença, mas o som do seu sofrer aumenta à medida que tento envolvê-la em um abraço. Eu também não espero que ela aceite os meus braços com uma facilidade, até aceito se ela afastar os meus braços do corpo dela. Eu tento entender as suas razões.
Só que ela não impede o meu toque, mas também não retribui.
Isso faz de mim o cara mais ingrato do mundo. É bem quando acho que vou perdê-la de vez que tento voltar atrás. Não é justo fazê-la sofrer mais uma vez por alguém como eu.
– Ei, amor, – essa palavra soa ridícula agora – eu entendo sua raiva, você tem todo o direito, e tudo bem, eu compreendo se você não quiser me ver mais. Só olha para mim, é tudo que te peço, e vê que eu estou sofrendo por te ver assim e, pior ainda é saber que a culpa é minha. – sinto que ela segura a respiração e quando percebo estou fazendo o mesmo.
Ela me encara, dessa vez por vontade própria, e os seu olhos investigam o meu rosto em busca do resto da dignidade que me resta e, mais além, acho que ela está procurando a verdade ou quem sabe a resposta de mais uma das suas infinitas perguntas. Então tento responder a uma delas:
– Eu te amo, como eu nunca amei ninguém.
Ela respira fundo, claramente dividida entre acreditar ou não. Isso despedaça o resto que eu considerava digno de mim. Ela quase tem o dever de me deixar aqui sozinho, de tão repugnante que sou. Mas, surpreendentemente, ela permanece, silenciosa, sem fazer muita questão de gastar comigo as suas palavras. Ela encontra a minha mão na calçada e coloca a minha sobre ela. Seus lábios se separam levemente, como quem pensa em dizer algo mas que logo muda de ideia. Em seguida, ela se afasta de mim e sinto o frio separar o último elo do nosso calor. Num ímpeto, ela se levanta e de cima parece que seus olhos me atravessam, certamente não estão focados em mim. Eu permaneço e ela continua imóvel, em pé.
– Nem seu amor é suficiente, porque simplesmente ele não existe mais. –  ela pára por algumas frações de segundo, capaz de descontrolar todo o meu ritmo cardíaco – Por isso eu sinto muito.
Ela esboça um sorriso cheio de dor e, no curvar quase imperceptível dos lábios, me entrega o seu sofrimento. Então, sem pronunciar qualquer adeus, ela se vai. Eu nunca tive tanta certeza de algo como agora, por fim, de que essa é a melhor forma de demonstrar a ela o meu amor, por mais insuficiente que seja. Não existe mais nada que eu possa fazer por mim nem por nós e o adeus assim, sem contestações, é a única maneira de cuidar de um coração imenso que deve ser ocupado com quem realmente mereça estar nele.

mardi 13 août 2013

Suspeitos

"Somos suspeitos de um crime perfeito, mas crimes perfeitos não deixam suspeitos"
– Engenheiros do Hawaii
Você sabe onde quer chegar e tudo que deve superar para isso. Você não conhece o caminho, mas todo risco é válido. Você se sente pronta, mesmo ciente de que não será fácil. É uma chance que não lhe escapará entre as mãos. Alice é a sua personagem preferida, mas você está muito longe de querer ser ingênua como ela. O mais semelhante que pode querer é a persistência. Você gosta de acreditar até mesmo no impossível. É um último sorriso que você dá para o espelho antes de sair de casa. Pega a bolsa e fecha a porta com tanta leveza que mal faz barulho, você desce as escadas confiante. 
Pensa ter esquecido algo, mas lembra de que a única coisa que ficou para trás foi a velha você.
As garotas estão cantando alto quando você entra no carro. Você adora a animação delas e hoje você as promete: vou aproveitar. E elas vibram e te dão todo o apoio. Quem diria você, logo você que sempre foi meio careta, meio na sua, sei lá, meio fora do tempo. Quem diria que você estaria pronta para o que viesse nas próximas horas. No fundo no fundo você já sabe o que está para acontecer. É nele que você não para de pensar. Ele atormentou seus sonhos e até seus planos nos últimos, bem... tempos. Você sabe que é errado, afinal, tem pouco tempo que ele terminou um relacionamento. E a tal garota, pelo que já ouviu falar, tem mania de detetive. Que a deixe investigar, mas é você quem será lembrada. As suas amigas te chamam a atenção – Ei, fala alguma coisa cara! – e você se volta para dentro do contexto, que ainda é dentro do carro, no colo da Ana, conversando sobre o Fernandinho. A Ju está falando dele até agora e tudo o que as meninas fizeram foi planejar minuciosamente os passos dela. Mal sabem que o seu objetivo é muito maior. Você prefere o mistério, sua intenção é surpreender e, de preferência, a muita gente, inclusive elas. Você cansou de ficar em segundo plano e hoje vai ser diferente. Sem querer ser outra coisa, hoje você vai ser você como verdadeiramente é.
Na fila da balada você já começa a procurá-lo, mas bem provável que pela hora ele já esteja lá dentro. Esse fato só te deixa mais ansiosa, já que isso permite a sua imaginação criar uma companhia feminina com ele. Você afasta essa fantasia e tenta lembrar de que foi ele o primeiro a te convidar para a festa. Isso te alivia, mas você logo pensa: e se ele tiver convidado várias garotas?
Uma mensagem no Whats: vem logo, estou te esperando no bar.
Mais do que satisfeita com a resposta, você sorri. A Ana intuitiva como sempre, percebe seu momento felicidade. – Esse sorriso tem nome e sobrenome...
Você deixa a pergunta no ar e dá uma piscadinha.
Finalmente você entra e também o acha com uma facilidade incrível, quase como se ele tivesse um ímã para os seus olhos.
Só que prefere fingir que não o viu, não por enquanto.
Como as garotas te colocaram no plano Ju&Fernandinho, é hora de agir, afinal tudo começa por você. Então você circula pela pista, a procura do seu amigo e sente os olhos das amigas e quase que um outro olhar também em você. Impressão sua. Você precisa se concentrar na missão J&F. Ele está conversando com o Marco e tudo que você consegue pensar é como eles se aguentam há tanto tempo, são quase siameses de tão inseparáveis. Quando o Fernando te vê, vem ao seu encontro, de braços abertos e te aninha como quem sente saudade demais. Senti falta de você também, amigo, você diz. Durante a breve conversa, você sugere que os dois se juntem à você e às meninas, que estão logo ali, ao fundo. Eles olham e como quem lê os pensamentos, você os puxa pelos braços e os guia até lá, feliz por já ter dado certo. Você os apresenta às garota, e a Ju, que já o conhecia de outras festas, não perde oportunidade de jogar um charme quando o Fer a cumprimenta. Você sussurra no ouvido da Ana que vai ao banheiro e ela diz que vai contigo. Você retoca o batom que nem estava borrado e ela te pergunta o que você tanto esconde. Nada, nada, você vai ver, espera só. E saem do banheiro.
Nem precisou esperar tanto, quando vocês passaram pelo bar, uma mão tocou seu ombro e você se virou. Sim, você já está em chamas. Tudo te aquece por dentro e sente que por fora suas bochechas dão o sinal.
–Mari! – ele sorri –Pensei que você nem ia entrar, finalmente, hein?!
Finalmente mesmo, você pensa.
Sorri para Ana que de longe, nem viu que você ficou para trás e, ah meu Deus!, é o Henrique. Ela te olha como quem pede explicações e você olha como quem diz é isso que eu tanto queria, agora continue andando, amiga. Ela sorri, bate palminhas de empolgação e segue para onde as suas amigas estão. Já imagina a cara delas de surpresa. Você sorri para o Henrique, que começa a falar de toda a preparação para a festa. Você se mostra interessada enquanto ele conta sobre a correria toda e do DJ principal que entra em poucos minutos. Só que ele te trata quase como amiga e isso não se confirma pelo fato de hora ou outra ele dar alguma indireta ou segurar sua mão enquanto conversam. Ele está incrivelmente lindo, você é encantada pelo jeito que os olhos dele quase se fecham quando ri. A camisa pólo e o jeans claro caíram perfeitamente bem nele. Aliás, como ele consegue ser tão gato? Você se pergunta.
–O dj vai entrar daqui a pouco, preciso ir lá no camarim antes. Você vem comigo, Mari? – antes mesmo que você dissesse qualquer coisa, ele já pegou sua mão e entrelaçou os dedos nos seus. Ele te leva até lá e, apesar de não entender muito de música eletrônica, você já ouviu falar do cara. O Henrique te puxa para uma foto com a atração da noite, e mal sabe ele que você pouco se importa com isso. Vocês saem de lá e voltam para a pista e no mesmo momento o cara começa a tocar e todos vibram, inclusive ele. Você o confessa que não sabe como dançar isso e ele mostra as pessoas ao redor, que obviamente não dançam de um jeito, digamos, padrão. Você sugere um drink e ele adora a ideia. Você pede a sua margarita e ele a cerveja. Vocês se sentam numa lounge próxima dali.
E ele ainda segura sua mão.
A conversa flui de uma forma muito natural e isso te encanta cada vez mais, logo você, que sempre se achou reservada demais e o Henrique, o cara mais cobiçado, aquele que todas trocariam qualquer programa de sábado a noite por um cineminha que fosse com ele. Ele elogia a última foto que você postou, aquela de costas, num ângulo que você jamais tinha arriscado, só para mostrar sua tatuagem na costela. Ele diz que você estava linda e, ainda mais, que você fica muito bem com aquele batom. Ele sabe exatamente o que falar. Vê se pode. Aquela foto é mesmo a sua favorita e agora você tem mais um motivo e dos bons. Você sorri com todos as intenções de que um sorriso pode ter. Quase sem perceber, ele te rodeia com o braço por trás do seu pescoço e te aproxima do corpo dele, com a mão no seu ombro.Você garota, já é mulher e sabe bem o que quer. Para de pensar duas vezes porque, aliás, você já pensou demais.
As meninas te observam de longe e, claro, sequer imaginavam que ele estaria com você esta noite. As meninas gesticulam um vai logo, beija ele que até o Henrique percebe. Você abaixa a cabeça, claramente constrangida, quando ele te aperta e diz:
–Ah, para com isso, tá incomodada com suas amigas? Então olha ali! – e apontou para onde os amigos dele estavam, que olhavam para os dois e faziam gestos piores do que as meninas. Ele te fez rir tanto que doeu a barriga. Tudo estava ao seu favor. Ele vira o seu rosto, para que seus olhos encontrem com os dele. Você quase se esquece de respirar e espera que seu rosto não esteja um pimentão. Você não consegue entender o calor que emana do olhar dele. É impressionante o quanto ele consegue te envolver. Você fecha os olhos, como quem já sabe o que vem nos próximos minutos.
Você até sorri.
E, mais uma vez, ele te surpreende.
–Vamos sair daqui, então. Quero te levar a um lugar incrível.
Você olha sem entender, um pouco desconfiada. Ergue as sobrancelhas e espera uma resposta que te indique o lugar e, bem, as intenções.
–Eu prometo que não vou fazer nada, Mari. Confia em mim, você vai gostar. – ele te fita de uma maneira irresistível e você não consegue dizer não. Ele espera a sua confirmação, que foi se levantar dali e resmungá-lo: –O que você está esperando aí, mocinho?
Ele te olha satisfeito e suas amigas acompanham cada movimento de vocês até saírem da festa. Você não consegue entender a vontade repentina dele de ficarem sozinhos, afinal a festa é dele e dos amigos, ele te contou o quanto eles ralaram por esta noite. E nesse momento, tão de repente, ele quer ficar com você. E só você. Inimaginável. Inesperado. Você começa a achá-lo um verdadeiro mistério, mesmo que fale abertamente de tantos assuntos.
As suas amigas já começam a te chamar no grupo do Whats:
– Mari, como assim?! Que história é essa?
– Ahhh a Ju já está com o Fernandinho, você viu, Má? Agora você... bitch!
– Ai Mari, conta logo! H&M rola muito!
– Também quero saber pra ontem!!
Sorria. Você conseguiu.
E prefere o silêncio, mais uma vez. Finge que nem viu e tudo o que você quer para agora é aproveitar esse momento com ele. Ele abre a porta para você entrar e se adianta em tirar algumas pastas do banco de passageiro:
– Ó, você deve imaginar o quanto eu estudo –ele se debocha– que aí até para a balada eu trago meus trabalhos da faculdade.
Você entra rindo e ele fecha a porta, contorna o carro e se senta. Você confessa a ele que está um pouco de receio porque, bem, isso não é coisa que garota como você faça. Entrar em um carro de um praticamente estranho. Ele pega na sua mão. O silêncio é uma tortura deliciosa.
–Se você pensa assim, então eu estou disposto a te conhecer e mais ainda que você me conheça melhor.
E deixa nos cantos dos lábios um sorriso frouxo que, ah Deus, é irresistível. Você pensa e tenta calcular o poder das suas próximas palavras.
–Tá, hoje eu vou acreditar em você. Só aviso que não gosto muito de ser decepcionada, então me surpreenda, combinado?
É a sua vez de dar um sorriso intencionado. Ele concorda com a cabeça. Ele ligou o carro e deixou a música quase inaudível. Vocês conversam o trajeto todo e em vão você tenta reconhecer aquele caminho. Você nunca tinha passado por essas ruas e a ansiedade começa a te consumir.
Estamos chegando? – você pergunta.
– Isso responde?
Ele sorri, porque neste momento a estrada acaba e ele para o carro. Você percebe que, apesar de escuro, parece ser um lugar incrível de dia. Até de noite a visão é linda.
–Henr.. Henrique. Ah, isso é lindo. – é tudo que você consegue dizer.
Ele tira o cinto para se aproximar de você. O Henrique te envolve com gestos suaves, mas firmes. Ele tem tanta certeza quanto você. Ele te aninha no ombro, enquanto você ainda admira a paisagem a sua frente. As portas estão abertas, mas vocês permanecem dentro do carro. Mas de tudo isso, você não esperava nada.
Não dele. Não esta noite.
Ele te deixa deliciar com os pensamentos que você tanto gosta. Sua mente vai a mil. Ele é muito diferente do que você imaginava. Do rostinho bonito que muitas já sonharam em fazer um simples carinho. O toque dele te entorpece. Ele quebra o silêncio:
–Eu nunca trouxe ninguém até aqui, Mariana. Nem meus amigos, nem ninguém, porque você não é igual a todas as outras garotas. Sempre venho sozinho. Normalmente é quando não estou me sentindo bem. Eu encontrei este lugar quando meu avô tinha fazenda há poucos quilômetros daqui. E desde então, tem sido o meu refúgio. Gosto de ver a cidade daqui de cima, de certa forma me tranquiliza. Está tudo tão distante, não está? Olhando daqui, as pessoas sequer existem. Só vejo as luzes das ruas. Eu não preciso ver mais ninguém. E de dia consigo ouvir a natureza – ele faz uma pausa para você ouvir o som que vem de fora e é tudo verdade –É aqui que eu paro de ver o mundo, para que, enfim, eu me veja.
Você respira fundo, encantada com esse pequeno pedaço de tranquilidade no meio do turbilhão da cidade. Este lugar, principalmente com ele, te aconchega de tal forma que você é invadida por uma paz imensurável. Você até poderia pensar que ele já disse isso para outras garotas, que você não é a primeira garota que ele trouxe até aqui, mas não. Você prefere acreditar na sinceridade dos olhos dele. Ele segura o seu rosto e o vira na direção do dele. O olhar dele é terno e apaixonado. Você sente a respiração dele cada vez mais quente enquanto acabam os poucos centímetros que separam um sentimento recíproco. E ele te beija, lento e doce, que até mesmo seus pensamentos se silenciam. Agora, é só você e ele, mais nada nem ninguém. Ele aperta o seu corpo e você é cada vez mais tomada por ele. Por dentro, você consegue sentir uma completude que há muito tempo havia procurado. Mesmo sem acreditar em meias laranjas, ele te completa da forma mais intensa possível e nada se compara com o agora.
Você poderia, na sua lucidez, jurá-lo amor.
Você tem certeza de que o encontrou.
Ele tira os lábios dos seus, seus narizes se encostam, mas ainda assim aquela distância te deixa com uma sensação de vazio. O Henrique fita seus olhos e, mesmo que por eles você já tivesse entendido tudo, ele verbaliza a sua alma.
–Eu te amo.
Você não o deixa escapar dos seus braços e o beija como quem consente. Porque você realmente consente. – Eu amo você.
Você entende o poder desse lugar e a sintonia que emana a cada milímetro. Ele te abraça no mais perfeito encaixe. Seria até suspeito dizer sobre coração, porque até contra a anatomia vocês são. São suspeitos do mais puro sentimento, que de tanto ser amor, vocês são dois num todo coração. Você tenta definir e consegue: é tudo isso, é ele e, finalmente, é amor. Ele te beija e, mais uma vez, a vida te dá as respostas. Você parou de ver o mundo, permitiu se ver. E viver você e ele. Do amor, suspeito e perfeito.

samedi 13 avril 2013

Aquele cara que nunca te notou

Você já tentou de tudo. Não era a sua melhor roupa, mas entre suas amigas era a mais bonita. Ele sempre está com aquela camisa que você adora. Seu melhor amigo tem uma igual, mas ficou muito melhor nele. O corte do seu cabelo é único. É comum, mas nele é diferente. Dizem que ele é simpático e você quer porque quer conhecê-lo. O problema é que ele nunca te notou. Ele é ímpar, apesar de que você sempre dera certo com os números pares. Deve ser por isso, ou sei lá o que deu na sua cabeça que você quer ele, só ele. A cena se repete inúmeras vezes durante o dia, mas a conversa nunca aconteceu realmente. Você o vê sorrindo e lá se vão seus batimentos cardíacos em disparada. E não deixa de acreditar que num futuro próximo tudo estará bem melhor.
Você não gosta nem de pensar naquele dia que você não o vê. Se vocês tivessem algo, alguns dias de distância seria ótimo, só que no seu caso a saudade é muito injusta. Você pensava: é hoje. Mas esse hoje sempre ficava para depois.
Só que hoje, agora mesmo, você nem imaginava que o veria. E, que ódio, olhe como você está, a sua camiseta, apesar de ser a sua preferida, já está muito velha. Assim, de surpresa, é um short qualquer que você usa e chinelos. Solto, os seus cabelos não está no melhor dia e sua maquiagem é rímel e blush. E só. Só você do jeito mais inusitado e, logo ali, quem te prende a respiração e acelera seu coração.
E então, ele olhou para você. Ei garota, controla esse sorriso bobo no rosto. Só ele tem os olhos que você implora por invadir. Só ele, que nunca te notou, que é quem você quer. Como consegue ser tão lindo? Para de sorrir assim, ele vai perceber e... Ele te sorriu de volta! Finalmente. Lembrou de respirar? Já pode começar a sonhar. Ou melhor, sonhar... um pouco mais. Você desviou o olhar, mas ele não. Um segredo, ele continua sorrindo. E se prepare garota, a cena agora vai além do script porque, pode acreditar, ele – ele! – vem ao seu encontro. De perto o sorriso dele é mais lindo do que você poderia imaginar. Quietas, borboletas! Impossível. Mas quem diria, quem?
Ele que nem sabia da sua existência, agora sabe seu nome e te convidou para um café... Vamos? Ele diz com aquela curva nos lábios.
Por quê não? – é tudo o que você consegue dizer.
Pode sorrir de volta, garota, e sem pensar duas vezes. Afinal, finalmente.

samedi 22 décembre 2012

Deixá-la partir

Vou o mais rápido que posso, logo atrás do seu carro. Peço, em pensamentos, que não perca a cabeça mais uma vez. Cada provocação sua nos deixa mais frágeis. E é isso que me faz lhe dizer palavras incrédulas, cortantes, nunca a verdade de sempre, mas a raiva momentânea. É difícil perder um amor. Eu fui muito longe com tudo isso. Penso no quanto dói perder a garota que mais amo, e te perco cada vez mais. Sei que, se estiver indo a sua casa, você vai chorar baixinho, desejando-me o mais distante de ti. Você sabe que estou logo atrás e acelera mais. Quase posso sentir suas mãos trêmulas no volante. Lágrimas e direção nunca combinaram. Eu queria não compreendê-la tão bem, a ponto de saber que não vai querer me deixar entrar. Eu já sei o que nós precisamos. Você precisa ir. Descemos e batemos a porta dos nossos carros em sincronia.
– Me deixe ir.
Sua voz está rouca e isso chega como um sussurro lento e doloroso. Seguro a porta, antes que você consiga batê-la na minha cara.
– É por isso que estou aqui. Deixe-me falar. Será a última vez.
Você chora. É nos seus olhos que percebo que o problema sempre fui eu.
– Apesar do meu erro... apesar de ter te machucado mais uma vez, mas na frente de quem mais importa para você, não quero me desculpar de hoje. Mas de todo restante. Não deveríamos sofrer nesse caminho. O fim parece apenas o novo começo, apesar de que estivemos nele durante muito tempo. Porque você ainda tem que seguir adiante. Eu não tinha nada, até encontrar você. Meu tudo. Agora não há voltas, você jamais aceitaria. Por isso estou aqui, eu realmente preciso deixar você ir. Suas lágrimas me ferem. Essa culpa de ser o motivo delas me corrói por inteiro. Por mais que eu te ame, você tem que ir. Eu tenho que deixá-la. Mas antes, me desculpe. Desculpe por aquela dia, que vi você conversar com aquele seu "amigo" e acabei perdendo a cabeça. Desculpe por não te esperar, quando quis dar-lhe uma última chance para voltar para mim. Desculpe por às vezes ser tão arrogante, tão estúpido, tão... eu. Desculpe por gritar com você hoje, na frente de todos. Ainda assim, desculpe por sempre te tratar como prioridade. Eu não deveria. Sei o quanto isso nos feriu. Desculpe por eu não falar que te amava quando eu tinha certeza disso. Você esteve presente para quem te ama, mesmo para quem não merecia. Acima de tudo, eu sinto muito por ter desistido de nós. Você nunca desistiu.

Esse post faz parte do desafio 2012, Momentos: Dia 22 – Foto + Texto

dimanche 2 décembre 2012

Indelicada

2012, Momentos: Dia 2 – Escreva uma crônica
Indelicada
Não gosto de elevadores cheios e nem dos assuntos que as pessoas que nele costumam conversar. Juro que é sem querer quando não retribuo um gesto gentil de alguém. Pouco me agrada lojas lotadas. Passo longe daquelas que os vendedores esperam na porta. Palhaços são sem graça. Piada só se for de humor negro. Dizem que sou chata, mas não vem com essa para cima de mim não, é você que não sabe conversar comigo. Adoro mesa de boteco, mas por favor, não esbarre na minha cadeira. Isso irrita. E amiga apaixonada, então? Confesso: sou a pior conselheira e a maior inimiga nessas horas. Chega de chororô. Não acredito em mundo de cor de rosa e esse papo de que toda mulher é uma princesa, é tão hipócrita quanto fada do dente. Mas, ei, peraí, não é porque eu seja indelicada que eu não tenha sentimentos.
Pelo contrário, sou uma manteiga derretida. Até chorei quando minha gatinha morreu.
Tenho fascínio por certas pessoas que conseguem surpreender a rotina. O maciço cotidiano é o meu maior temor. Por isso, elevador não é o melhor lugar para falar comigo. Eu sei que o tempo está frio, eu olhei pela janela antes de sair de casa. Eu também assisti ao jornal, se seu time ganhou, parabéns. Não precisa puxar papo comigo, até porque eu nunca compreendi o motivo de todas as pessoas o fazerem sempre da mesma forma. São todos iguais! E suas conversas não são uma exceção. Entre meus fones de ouvido e o papo maçante de elevador, adivinha o que eu prefiro.
Na maioria das vezes, não compreendo o universo feminino, ao qual eu também faço parte. Devo ser a praga do século. É simples, não compreendo toda a subjetividade e metodologia da mulherada. Numa boate, o cara nota a moça, ela finge que ignora, olha como que não quer nada, ressalto que ainda finge ignorância, mexe no cabelo, aperta os lábios, olha o rapaz novamente e sorri. Claro, ele já entendeu. Eu que não. Ei, por quê não pula isso tudo e vai direto ao ponto? Olhar e sorrir foram as únicas duas partes significativas dessa história.
O resto é o que chamam de charme.
Ok, homens gostam disso, mas porra, parece até um contrato que ambas as partes têm que cumprir todas as etapas. Sem essa de moça de família, mulher de respeito porque, para começar, isso tudo ocorreu na balada. Isso não é para mim, definitivamente. Ainda não descobri um macho autêntico para fazer isso aí diferente. A conversa de elevador também é mais ou menos assim. Arrependo-me profundamente de ter comprado meu apê no décimo quarto andar, sim, no último. Se eu tivesse escolhido no primeiro e o que não faria diferença alguma, pouparia-me dos vizinhos que falam demais no elevador. É algo que eu penso todos os dias, quando estou dentro dele. Volto do trabalho e entro no elevador. Adivinha, lotado e sempre a última a sair dali. Ah, droga, esqueci a chave de casa dentro do carro. E de novo, mais uma aventura nessa joça maldita.
No décimo segundo andar, o elevador pára.
Entra um rapaz, com uma mochila esportiva e o que parece ser uma raquete de tênis. Ele ainda tenta organizar as várias coisas nos seus braços. Poderia até oferecer ajuda, se isso não violasse meus limites de contato naquele cubículo refrigerado. Ele me olha, como quem esperasse alguma atitude, e logo já se ajeitou com seus utensílios. E, surpresa, não puxa assunto. Isso me deixa indignada até certo ponto. Normalmente, as pessoas sentem-se atraídas a conversarem comigo nesses momentos. Eu é quem não dou muita liberdade. Estamos no sétimo andar e não entrou mais ninguém.
Eu também gosto do silêncio. – diz ele.
O jovem me sorri no canto dos lábios e retribuo o gesto por mera educação. Mas isso me corrompe a tranquilidade com que trato conversas de elevador. Ele foi diferente, como quem soubesse dos meus pensamentos e isso me faz o reparar. Ele é extremamente charmoso. Não diria bonito, até porque sua beleza é um pouco fora do comum. Ele não parece se enquadrar no tal protótipo homem de balada. Isso me fez despertar uma certa atração por ele. Reparo as mãos, nada de aliança, apenas a raquete e as chaves do carro. Ele tenta retirar uma mecha de cabelo do rumo dos olhos, sem sucesso. Engraçado, quatro anos aqui e eu nunca o vi antes. Deve ter mudado recentemente.
– Sou novo por aqui, estou um pouco confuso, ainda.  – e sorri.
Sinto segurar a respiração por instinto. Isso extrapola muitas das minhas regras. Sinto-me como uma menininha de 13 anos, sem consolo.
Meu nome é Pedro, moro sozinho no 125. Ah, e sempre esqueço de comprar açúcar, talvez eu te peça algum dia desses. – Pedro estende a mão em minha direção e eu apenas a olho, pensando se devo estender a minha também. Ele compreende rápido e retira-se do gesto. Ele sorri sem parecer nada abalado com a minha indiferença. Eu o olho, um tanto quanto impressionada. E abro um verdadeiro sorriso para ele, ao tempo que o elevador se abre também. E  não falei nada. Aliás, eu deveria?
Ele tenta pegar a mochila do chão com dificuldade. Quis ajudá-lo, mas ele foi mais veloz. Acho que ele nem viu. Só agora, me pronuncio.
Seja bem-vindo, Pedro. Se precisar de açúcar, me procura no 142.
Apesar de estarmos andando na mesma direção, rumo à garagem, ele tenta um aceno, mas em vão: as mãos cheias o impedem. Penso na minha performance. Ele é simpático, bonito e solteiro. Será que ele gostou de mim? Acho que não fui educada. Deveria ter apertado a mão dele. Estou me sentindo exatamente como a mulherzinha que quer chamar a atenção de um cara. Isso é ridículo, de fato. Como será que está meu cabelo? E minha roupa? Eu sequer o ajudei. E se ele tiver me achado realmente rude por isso? Poderia ter sido mais receptiva e agradável. Droga.
Ai, será que eu fui muito indelicada?

samedi 27 octobre 2012

Lembranças do melhor de nós

Tenho no meu colo um álbum de fotografias. Antigas e algumas poucas recentes. Apenas nostálgicas. Este, dentre os inúmeros, é o meu preferido. Porque, ao contrário dos outros, é o único que eu consigo me sentir realmente viva. Essas imagens guardam memórias. Guardam sorrisos. E também guarda você. Dizem que é esse tipo de coisa que nos faz seguir em frente, de olhar para trás e não se arrepender. Aconteceu. Ou melhor, ao invés de acontecer, não aconteceu. Nós não acontecemos. Mas ei, você seria capaz de olhar para essa foto, esta aqui, e lembrar-se de como eu sorria? Bom, não posso negar, eu fui feliz. Eu sequer me preocupava se amanhã estaríamos juntos ou não. Eu nem sabia com o que me preocupar da vida. No máximo se você chegaria de viagem sexta à noite ou sábado de manhã. E era fácil: quando a saudade batia mais forte, nem sexta nem sábado... quinta de tardezinha você já estava aqui. Obrigada, eu dizia, obrigada pela sua boa vontade de me fazer sorrir.
Passo a página, e nessa foto aqui ainda somos pequenos. Alguns poucos anos, que juntos somaria pouco mais de uma década. Doze anos eu acho: cinco meus, sete seus. É sim, olha a data aqui. Aniversário da sua mãe. Ela ainda estava bem jovem, com os cabelos volumosos de um tom de castanho que, durante toda a minha infância, brilhou muito aos meus olhos. Não acredito, olha aqui, esse viagem à praia foi inesquecível.  E nós, que mágico, como mudamos. Eu gosto mesmo é dessa outra aqui. Está até um pouco embaçada, deve ser poeira. E sabe por quê essa foto é assim, tão especial? Nela, eu poderia resumir nós dois. Mesmo com o fim que tivemos, essa aqui diz do que nós fomos uma vida inteira juntos e não de quando o deixamos de ser. 
Abraçados. Aqui você vê, meu rosto é sereno, eu usufruí dos melhores sonhos. Você sorri até mostrar quase todos os dentes. Tinha acabado de perder o último de leite. Praticamente um homem. Ou quase. Sob o seu pé, uma bola murcha, é aquela. Na foto nota-se um movimento. Não é possível ver a minha mão por trás da sua cabeça. Mas meus olhos denunciam. Eu amava te surpreender, mesmo que fosse com uma daquelas molecagens de sempre. O flash veio poucos segundos antes de um puxar seu cabelo. Mas, ainda bem, que bonitinhos, estamos apenas abraçados. 
O resto é detalhe, é lembrança, é história que essa foto não é capaz de contar. 
Esse cachorro no fundo corria em nossa direção. O vira-lata da Dona Margarida gostava mais da gente do que dela. Vinte anos é um grande tempo. Lembro de no mínimo cinco cachorros dela. As flores são lindas. Parece até que sorriem com a gente. Nós também sorríamos às flores. Agora, não tem mais o cheiro adocicado da infância, não há o barulho da natureza: é uma fotografia. Gostei dos mais sensíveis perfumes: dos lisiantos e das rosas do jardim do Seu Marcos, o cheiro da tua pele e da terra molhada depois da chuva. Essa foto existe tudo de nós, em tão pouco de história. É só uma foto. Aqui Jéssica não é mentirosa, Dona Rosa não é fofoqueira nem o Sr. Mário é o mais rico. Nessa fotografia, não se sabe o quanto de ambição ele guardou a vida toda, quantas vezes Dona Rosa já nos deu bronca ou todas as mentiras da vizinha. 
Vinte anos, repito e você sabe, é um grande tempo. 
Os personagens se cobrem por uma névoa que se intensifica à medida que se distanciam do momento do clique da máquina. O tempo serviu para modelar a vida de cada um de nós. Mesmo que hoje separados, essa foto, sim essa aqui, serviu para nos guardar em corpos em plena sintonia. Não há sentimentos expostos ou diálogos escritos. Pode-se até sugerir. Mas para quê?
Essa fotografia dispensa qualquer palavra a mais. Ela se traduz quando éramos, afinal, completos.
Queria te ligar para falar que Seu Marcos faleceu e na sua carta, pediu que a herança fosse distribuída entre os queridos. Estávamos certos, ele disse que nós dois éramos como os filhos que ele nunca teve. Preciso te entregar o que ele te deixou: todas as camisetas e bolas autografadas pelos grandes jogadores de futebol. Espero que ainda goste. Contemplo por longos e demorados minutos a mesma foto, pensando que você poderia estar aqui, mesmo vinte anos depois, rindo desse dia. Choro. Não mais consigo controlar. E também rio, fininho, quase sem me ouvir. A felicidade se mistura com a falta que você me faz. Não existimos mais. A fotografia não responde à minha saudade, a bola continua sob seu pé e minha mão atrás da sua cabeça. Já não sei o que me restou disso tudo. Às vezes penso em como fomos fortes, porque poderíamos ter escolhido nos perdoar e continuar juntos, para um sempre que não teria acabado tão cedo. Seria lindo, se não tivéssemos escolhido o adeus. Aqui está o melhor de nós, os mesmos de sempre: a bola, o último dente de leite, minha tranquilidade e o nosso amor. Vinte anos é muito tempo. Ninguém é mais o mesmo. E ainda assim, nessa fotografia nós conseguimos, enfim. Somos eternos, numa sintonia que, agora, já não existe mais.

jeudi 7 juin 2012

O que mais amo em nós dois

"Há sempre alguma loucura no amor. 
Mas há sempre um pouco de razão na loucura."
– Friedrich Nietzsche
Mon amour, meu amor, amore mio, enfim: meu garoto... Isso não se trata de uma crônica ou de uma história de final feliz. Não é um conto, mas sim a minha, a sua e, principalmente, a nossa realidade. Hoje tive vontade de lhe falar meia dúzia de coisas brancas e brandas demais, claras e azuis ao céu que irradia do lado de fora da minha janela. Lembrei de você ao ver uma nuvem passar, lenta, calma, silenciosa. Lembrei do nosso amor, tranquilo, sereno e inebriante. Com um sorriso pontual, veio-me à mente aquele dia que, sem conseguir dormir, te liguei três da manhã e você, meio grogue do outro lado da linha, ria das coisas bobas que eu lhe dizia. Afinal, nada mais justo de acordar aquele que havia me deixado longas e inteiras noites sem dormir, pensando nele. E a beleza que existe entre nós foi algo que nunca almejei por ver, apenas sentir – e como eu conseguia... E ainda consigo! 
Eu amo isso em nós. 
Não me fugiu à lembrança o nosso primeiro abraço, o nosso primeiro beijo e aquela noite – sim, unicamente aquela – que, em uníssono e pela primeira vez, dissemos eu amo você. Foi quando descobrimos um amor tão recíproco, puro, lindo e inocente que, sim, nos pertence. E o que eu vejo é algo tão singular que pôde se tornar um plural em sintonia, que se encaixou perfeitamente naquela noite, unicamente aquela, que te chamei de meu – tendo a certeza de ser sua. E se fosse possível, voltaria a cada dia que de alguma forma, foi unicamente aquele, que nos descobrimos um pouco mais, desse mistério de essências, ávidas e extasiadas, transbordando de um sentimento que só você consegue me fazer sentir. Eu seria a sua melhor memória e você, a minha melhor história.
E sem essa de final feliz. Podemos ser felizes sem um final.
Que as bobagens fiquem a parte, que isso não soe tão clichê quanto parece. Não é uma teoria que tenha algum tipo de fundamento – afinal amor é simplesmente... amor. Tudo que há de mais simples e que tanto amo em nós dois, é que a cada vez que me olho no espelho, eu te vejo em mim e me vejo em você. Não sei bem onde, mas isso não é algo que eu procure explicações, eu apenas te vejo a cada centímetro em mim – e sorrio, porque mesmo na ausência, você já está impregnado no meu corpo, nos meus olhos e principalmente, no meu sorriso. Você é o motivo dele.
Tiveram dias que nós nos amamos menos. Ou apenas deixamos de perceber a dimensão do nosso amor. A cada vez que tivemos uma discussão boba, você poderia ter virado as costas e ido embora. Bater a porta com força e deixar tudo mal resolvido. Mas, não. Ao invés disso, você me aninhou no teu colo, deu um beijo na minha testa e disse o quanto me amava. Mal suportando a proximidade dos nossos lábios, você me olhou daquele jeito extremamente hipnótico que me desanuvia, ébria, de tudo o que eu tinha dito antes. Eu nem lembrava mais por quê estava discutindo com você. Tarde demais para assimilar qualquer outra coisa a não ser que você já estava prestes a me beijar – sendo que minutos antes, disse-lhe o quanto que eu te queria o mais distante de mim. São as medidas da vida. Aquele momento de estresse era pequeno demais para o que sentíamos. Então você me beijava terno e eterno, certo dos limites do nosso amor.
Era a melhor sensação do mundo ter um cara feito exatamente para mim.
No silêncio ou no eu te amo, longe ou perto, eu ou você – independente disso, o exímio nós. Antes que eu enlouqueça com saudade e lembre dos teus olhos cheios de sinceridade, te peço baixinho, nas últimas linhas desse bilhete pregado na geladeira, que antes de viajar, me carregue do sofá para a nossa cama  – você mal percebeu que esta noite acordei e sem sono lhe escrevi isso, adormeci aqui para não te acordar – e me diz a primeira coisa que lhe vier à mente. Não se preocupe, talvez eu nem acorde para ouvir suas palavras. Se eu não acordar, sua voz estará guiando o meu sonho. E, enfim, quando eu despertar, você já estará longe, mas com a certeza de que ainda vai me amar amanhã de manhã. Às vezes você se foi, mas jamais partiu – o destino nos uniu por algo muito mais intenso que apenas o corpo. Ele nos ligou pelo desatino mais louco de todos: o amor.
É tudo que há de mais excepcional em nós dois.

samedi 24 mars 2012

Mais uma vez

Orgulho de blogueira: Estou super feliz! Fui indicada num Blog lindo e indescritivelmente único, que é o da Amanda Montt, mais conhecida como Mush (simpática-fofa-amiga), disse super bem do Antes de Sonhar no seu espaço mais que especial, o Conspirantes! Essa é a oportunidade de você seguir a querida blogueira com a maior satisfação! Impossível não amar!

Se você quiser alguém em quem confiar, confie em si mesmo.
Quem acredita sempre alcança.
(Mais uma vez – Renato Russo)
Quer acreditar em alguém? Acredite nela, mas acredite por ela. Seu limite, sua própria inexistência. Seu refúgio é o próprio medo de se encontrar. Vive a recolocar-se em personagens que jamais foram reais. Não se ilude, mas já não crê que sua realidade exista. Onde está? Respira sua sombra com mais fôlego do que essa a segue. Quem dela precisaria? Isso pouco importa. Ela não sente – também sabe fingir muito bem. Entrou no mesmo labirinto e não lembra como sair dali. Sente-se perdida. Seu desatino, seu desapego, seu desespero. Seu desamparo.
A lívida sensação de insegurança.
Não ama afinal é assim que não se machuca. Ela fecha o olhos para esquecer do mundo e principalmente: de si mesma. Por que ser assim, tão livre daquilo que tantos dizem sentir? Ela ainda não se descobriu. Filmes românticos não a comovem. Dia dos namorados não a abala. Beijo de cinema não lhe surpreende.
Simples assim: amor não combina com ela.
O soar da música que lhe diz faça tudo isso que você nunca fez, continua a encrustar-lhe o anseio de que aconteça o que jamais sentiu. É guiada por letras que muito dizem, entre um verso e outro, em que digeriu algum sentido.  Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem. O ímpeto das lágrimas transbordam pelo seu rosto. O silêncio se faz mesmo na rua em constante movimento. Os olhos de um desconhecido cruzam aos seus. Um desejo flamejante entrelaça duas almas e a dela, ao distrair-se no amendoado olhar dele, tão claro quanto o inebriante sentimento de novo começo, amedronta-na, mas no mesmo instante, a fascina. É isso amor? Pensa consigo mesma. Ele continua a lhe sorrir, num convite silencioso de um único toque e encontro de vidas a desanuviarem. Exala seu temor enquanto suas emoções afloram as vontades repreendidas. Vá em frente. Esse é o caminho. Espera que o sol já vem.
O seu sol. A sua vez – mais uma vez.
A respiração falha, já descontínua. Tenta desvencilhar do atordoado pensamento que ele seria alguém grandioso demais para ela. Um desconhecido. Continuam parados entre a multidão que voa em suas rotinas apressadas. As vidas deles param ali. Quem sabe a oportunidade de um novo começo? Ainda que tenha medo demais para enfrentar o novo. A insanidade lhe invade aos poucos e o sorriso pontual na face da outra alma, continua a lhe mostrar o mesmo caminho – siga-o.
Tem gente que não sabe amar. Mas eu sei que um dia a gente aprende.
Uma mão é estendida. Os dedos dela tocam os dele. Um calor súbito toma-lhe por inteiro e isso fá-la sorrir, sem perceber seu gesto. Algo lhe embrulha o estômago. Sente-se rubra e acima de tudo, encantada. A eternidade de tantos anos parece chegar ao fim – mesmo acreditando que fosse para sempre. Não foi.
Mais uma vez – ou vez nenhuma – o seu para sempre termina aqui.
Mesmo sem nunca ter começado.
Esse é o começo.

jeudi 23 février 2012

O Começo do Fim

"Não me lembro mais qual foi nosso começo. Sei que não começamos pelo começo. Já era amor antes de ser." – Clarice Lispector
Fui embora mais cedo. Não esperei que você viesse atrás de mim. Se é sorte ou azar eu não sei, mas pouco tempo depois, no entanto tempo suficiente para que eu começasse a chorar, senti uma mão apertar forte a minha. Era você, arrependido por ter feito a mesma coisa mais uma vez. Sempre enxerguei como uma forma de te amar menos. Mas de que adianta? Quando isso acontece você encontra uma forma que isso releve e toda minha mágoa se dissipe enquanto um súbito calor pela sua presença me envolva por inteiro.
Ainda não compreendo como ainda te amo do mesmo jeito.
Esse é o motivo do qual nós nunca nos entendemos, antes de terminar em briga. Eu não vejo mais soluções, porque eu sei... você não sente, não sempre. Quis acreditar que os problemas eram meus delírios apenas, que essa era mais uma paranoia que me fez chorar antes de dormir. Eu nunca quis, mas... talvez isso precise acabar. Você suportaria? Só não minta... fingindo que isso te fere como se... você ainda se importasse. Essa tortura e todo esse sentimento de que nada jamais nos abalaria. Mais um erro que cometemos por escolha, não por falta de opções. Sinto que assim, chegando ao fim, não perco só essa droga de amor estúpido, que mutilou-me aos poucos, a cada momento oportuno da fragilidade. Estamos nos perdendo. Quando, então, percebo que passei todo esse tempo atrás de algo que nunca seria capaz de encontrar. Não quero desculpas, tampouco explicações. Para mim já deu. Erramos por acreditar que isso daria certo, só porque seu perfume combinava com o meu e isso me dava náuseas. Erramos por nos entregarmos, por ter ficado tanto tempo juntos. 
Erramos por chamar isso de amor. Mas ainda assim, um erro.
Confesso que não ter acertado dessa vez foi a melhor coisa que já me aconteceu. 
Não é como se tudo acabasse por aqui, até porque não seríamos capazes, seríamos? Talvez nós não devêssemos encarar tantas mudanças como o começo do nosso fim.  Esse pode ser só o fim do nosso começo. O fim de uma fase de inúmeras crises, que apesar de tudo, eu me fiz mulher ao teu lado. Ainda preciso de você, da mesma forma tão intensa de quando você me chamou de amor pela primeira vez. Fica aqui comigo, cola seu coração no meu. Vamos pular essa etapa para sermos melhores daqui para frente. Mesmo que eu ainda não compreenda o motivo de ainda tentar nos salvar mais uma vez... Amor não precisa ser compreendido, até porque jamais soube explicar, contigo aprendi a sentir. E por isso, talvez eu te ame mais do que imagino e isso seja suficiente para que eu te precise do meu lado.
Então... você vem?

mercredi 18 janvier 2012

Lembranças

Essa é uma continuação do texto Daquele Primeiro Amor.
Henrique,
Foi tudo tão claro aquele dia. O céu não era mais límpido que todas as sensações que compenetravam meu corpo. Naquele momento me convenci de que queria ser assim, sua para sempre. O modo como sentia teus olhos brilharem, fazia-me pensar se aquilo tinha mudado tanto a sua vida como a minha mudara. Era estranho demais pensar que um dia senti repulsa de você. Não éramos mais os mesmos, éramos? Eu estava feliz demais por saber que o meu sentimento era o mesmo que o teu.
E, então, poucos meses depois foi seu aniversário.
Aquele era definitivamente o começo da tua puberdade.
A diferença que no ano passado você não era meu.
Fomos jogar boliche com seus amigos para comemorar. Você pediu que, daquela vez, nenhum adulto fosse. Eu achei aquilo tão maduro, que voltei a te ver homem demais para mim. No fundo eu ainda queria brincar com as minhas bonecas. Mas eu te queria mais, eu precisava ser como você! A partir dali eu tinha de me comportar como uma mulher. Naquela noite você me apresentou para os seus amigos, até mesmo para os que eu já conhecia. Mudara, apenas, de função. Agora eu era sua namorada. Aquilo me fazia arrepiar de uma forma inexplicável.
Você era meu namorado.
E eu, sua namorada. Não era?
E seus amigos eram um bando de crianças. A diferença era que tinham crescido como você e a voz engrossava. No fundo eles também queriam brincar de carrinho. Só que eles, inevitavelmente, tinham que se comportar como homens, mesmo não sendo nem se comportando como uns. Aquilo me assustou um pouco. Será que longe de mim você se comportava da mesma forma? Eu não estava me esforçando demais para tu ser um bobo alegre como eles? Não importava, eu gostava de ti. De corpo e alma. Às vezes mais alma. Outras, mais corpo. Mas era o nosso jeito que me encantava. Eu estava cada vez mais apaixonada por ti.
Eu amava até mesmo o nosso silêncio. Você me encarava com um sorriso meio torto no canto dos seus lábios, enquanto me fitava erguendo a sobrancelha. Eu gostava dessas suas manias de charme e como me fazia esquecer de qualquer angústia. Aquilo me aliviava de uma forma que mal sei explicar, mas só você me fazia sentir. Existia algo em ti que reconheço, fazia-me enlouquecer.
As fotos desse dia estão no meu colo. 
Por quê o que me fez feliz um dia, me faz tão mal agora?
Eu estava do teu lado defronte ao bolo, e enquanto a música de parabéns acabava, lembrei que sempre vinha aquela outra do com quem será. Foi por causa dessa estúpida canção infantil que percebi que tu gostava de mim. Tua mão pendia na minhas costas, enquanto seus amigos te zombavam por ser tão romântico comigo. Você sempre me tratou como a tua princesinha e isso me fez te amar cada vez mais. Quando disseram meu nome que eu casaria contigo, tu lascou um beijo na ponta do meu nariz, fazendo-me saborear aquela sensação de que, finalmente, as coisas estavam dando certo. Sem lágrimas e birras, éramos um casal.
Mal sabia que ele era o último parabéns que cantaríamos assim, juntos.
E apaixonados.
Um dia desses, um tempo depois do teu aniversário, te vi triste. Tua face era apática e teus olhos não brilhavam como sempre os vi. Até mesmo o céu entristeceu-se, tomando por cinza em todos os lados. Aquilo se fez escuridão no meu peito. Era insuportável vê-lo mal, e naquele momento, você não quis sequer me contar o que tinha acontecido. Vi sua mãe na janela, em prantos. Corri até a tua casa, e ela estava sentada, cobrindo o rosto com as mãos. Balancei teu rosto, implorando para uma resposta que fosse. Teu pai estava trabalhando e ninguém me contava o motivo de tudo isso. Naquele instante pensei que minha mãe talvez soubesse. Passei pelo quintal e você não tinha nem ao menos se movido. Nem sequer na minha presença foi suficiente para mudar seu humor. 
A distância entre as nossas casas nunca pareceram tão grande. Aquele quarteirão havia se esticado de uma forma inigualável. Mamãe estava na sala, e quando me viu, veio logo me abraçar. Ela também sabia! Eu odiava ser a última a saber das coisas e ela também não queria me contar! Tinha a ver com você e com todo mundo! Ah, Henrique, se eu soubesse... Você não teve coragem de dizer e eu senti toda a tua dor só por saber da boca da minha mãe. 
Vocês iam mudar. Iriam para outro continente começar uma nova vida, por causa de uma proposta que seu pai recebeu. Era como se você fosse fugir para um lugar muito distante... Intocável. Eu sabia que você voltaria para me ver de vez em quando. Essa distância era muito maior do que todas as que já existiram entre nós. 
Inclusive aquela entre os nossos corações.
Tudo seria tão diferente dali para frente, que eu sentia que o nosso sentimento não suportaria. Por mais que já quisesse tanta maturidade, nós éramos frágeis demais. Eu corri até a tua casa, enquanto as lágrimas escorriam dos meus olhos e uma sensação de vazio tomava meu corpo. Você estava da mesma forma, desde que saí dali. Tu chorava baixinho, engasgando tuas mágoas. Para ser sincera, tive medo de te perder. Eu te abracei, deixando todo o desespero daquilo ser evidente. Tu tocava meu rosto, minha pele, meu cabelo, como se tudo te fizesse sofrer demais. Você partiria em menos de duas semanas. Tudo teve um gosto de último. Nosso último momento junto, últimas lágrimas, abraço.
Nosso último beijo. 
E assim você se foi.
Tu voltaria nas férias do próximo ano. Também me prometeu que iria me ligar sempre, todas as noites. Ainda doía muito e minha dor só aumentou quando se passaram quatro meses e tu não tinha me ligado nenhuma vez sequer. Teu nome ecoava na minha mente, enquanto a saudade apertava meu peito. Teu cheiro começou a ser apenas uma essência nostálgica, teu toque tomou-se por um vazio e me vi perdida. Tua ausência ficou gigantesca quando tudo que me lembrava você perdia o que tinha de ti. Eu tentava te ligar, mas nunca consegui ouvir sua voz. Se aquilo era uma tentativa de fazer-me sentir pior... funcionou.
Nem seus pais ligavam mais para os meus. 
Eu não tinha notícias de você há tempo demais.
Passara um ano desde que partiu e tu não tinha voltado para me ver nas férias. O tempo foi abrindo um espaço vago entre nós e a minha felicidade. No teu aniversário, fiquei na minha cama, com o teu cheiro no travesseiro que usava quando dormia aqui. E como tudo que lembrava você, o teu travesseiro também perdeu a fragrância daquilo que mais amava. 
Me contaram que você morreu na semana passada.
Um acidente na estrada, uma explosão, três mortos e nenhum sobrevivente.
ㅤO último beijo. O adeus.
ㅤㅤVocê partiu.
ㅤㅤㅤEu me lembro do teu último aniversário.
ㅤㅤㅤㅤDe contar para os meus pais que estávamos namorando.
ㅤㅤㅤㅤㅤDe me sentir feliz ao teu lado.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤDe chorar por tua causa.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤE você pela minha.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤÉramos crianças.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤMas eu gostava de estar ao teu lado.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤNossas brincadeiras de tardes inteiras no quintal.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤVocê o nojento, eu a enjoada.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤTu era único para mim.
Apesar de tudo, nós nos amávamos, Henrique.
Eu lembro que tu nunca me julgou, mesmo com as minhas inseguranças. Sempre houve algo mais forte entre nós, que um dia te fez meu melhor amigo. Te vi crescer, nós crescemos juntos. Tua voz, teu corpo, todas as mudanças. Só você esteve tão presente assim na minha vida. Os segredos, meus arrependimentos, minhas lágrimas. Só, só você estava comigo, sempre.
Por que você teve que ir embora, Henrique?
Nós ainda tínhamos tanto para viver.
Eu encontrei o que precisava, mas você partiu cedo demais. Eu descobri tantas coisas... apesar da tua ausência, meu coração permaneceu fiel. Eu nunca te esqueci.
Você me esqueceu.
Mas por quê tudo teve de ser assim? O que nos fez chegar a esse ponto? Eu não queria! Não é certo, nunca foi! Você deveria ter ficado comigo e um dia encontraríamos a eternidade ao lado do outro. Teu cheiro desapareceu, todas as fotos no meu colo perderam o sentido. Essa maldita distância nunca deveria ter existido entre nós, nunca! Mas tu não está mais aqui para viver tudo isso. 
Por que eu só fui te amar de verdade depois que percebi... 
que eu não vou te ver nunca mais?

mardi 10 janvier 2012

De Volta ao Começo

Sumi. 
Escondi nos emaranhados do edredom e esperei passar. Guardei a dor para depois para dar lugar à histórias que nunca passaram de coisas da minha imaginação. Criei personagens, dei a eles um destino e motivos para estarem onde estavam. Preenchi o vazio com ilusões tão minhas que até eu acreditei nelas. Conheci a vida dos protagonistas e desejei o mal aos antagonistas. Era tanta vontade de não sentir a dor que viria em breve, que resolvi escolher até uma personagem favorita. Tão favorita que quis ser como ela e adivinha!, ela estava na apenas na minha mente, e a única superfície que ela andava era irreal. 
Nossas diferenças eram tantas, que até seus defeitos, para mim, seriam qualidades.
As sensações foram tomando meu corpo, e o latejar dos meus dedos frios dava-me certeza que já não agia mais pela razão. E a dor veio. Meus personagens se foram e lá estava eu lembrando de um passado que me machucou. Como num mártir, memórias obscuras encontraram meus olhos, e enquanto eu tentava tirá-las da minha cabeça, mais sentia sua presença. Contorço-me sob os cobertores, fecho os punhos contra o rosto. Tento não lembrar, resistir um pouco mais ou existir um pouco menos. Mas era impossível. Tinha muita vida ainda para me contentar com a não-existência. Estava parada entra a razão e a emoção, numa tênue dúvida para qual lado pender. Naquele momento, aflorava-me os primeiros instintos de agir por impulso, quase como a própria resposta da emoção de que ela prevaleceria. Por um instante tive certeza de que ele estava ali comigo. Aquele perfume eu reconheceria até no meio da multidão. Só ele tinha a fragrância que inspirava meus pulmões a arrepiarem até a alma. Era como se eu sentisse a respiração dele no pé da minha orelha. Uma sensação surreal.
Sabia muito bem que já começava a delirar, em crises incessantes da ausência que ele trouxe.
Tudo acabou.

A nostalgia da dava-me vontade de ligar, no ímpeto apenas de ouvir sua respiração. O que impedia-me era o estúpido medo de ser machucada mais uma vez, por um idiota que só fizera sofrer um dia. A verdade é que ele nunca saiu da minha vida. E eu nunca fiz parte da dele. Fui só mais uma diversão momentânea, numa passageira necessidade de chamar alguém de seu. E eu confiei. Sonhei e planejei estar com ele assim, num momento como esse, da necessidade de amparo e extrema dor que ele próprio fez. Chega a ser inacreditável que o motivo da dor é o mesmo motivo do sorriso. Só que agora, em momentos diferentes. Sinto como se fossem duas faces de um garoto que só quis ver uma. Eu precisava dele, no entanto nunca soube que para ele eu nunca passei de alguns meses de satisfação. Isso me fez doer, sangrar sem ver e partir sem ao menos existir. Ele botara sorrisos no meu rosto, onde só encontrava lágrimas. Sendo tão idiota, ele fez ser a razão delas também. Era tão bom tê-lo ao meu lado...
Não era?
E por que acabou? Por quê? Incompreensível. Dolorido, onde parte-me a certeza que se já estava segurando o telefone, eu iria mesmo cometer a mesma loucura. Não tinha como ficar pior. Se existisse como, eu estava completamente perdida. Eu liguei. Ele sabia muito bem que era eu. Apático, esperou que eu falasse, não ouvi sua voz nenhuma instante sequer. Tive vontade de gritar: Ei, te amo, te amo! Mas sabe a sensação de que esse amor é tão singular que só pode ser sentido sozinho? Eu estava exatamente assim. Com necessidade de amar o cara errado. Mais um erro. Estúpida dor que tintila no peito. Maldita vontade de tê-lo comigo, para sempre. Possessiva, ser dele. Dizem por aí que chamar alguém de meu é como botar um sorriso no rosto.
Estava precisando de alguém que também precisasse de mim também.
Sabia que ele não me faria bem, me deixaria doente. Então nem lembrava mais por quê um dia eu o amei. O que existia nele que me deixara assim? Desliguei o telefone, sem nada dizer. Afundei meu rosto no travesseiro –lágrimas. Apesar de tudo, ele entendia exatamente quando eu chorava. Dispensávamos qualquer palavra. Depois de tanto não mais. Éramos dois idiotas separados. Ele recomeçou e eu fiquei presa ao sentimento que só existia no meu  peito. Por que foi tão fácil? A dor continuava a me consumir. Levantei e fui caminhando exatamente para o lugar que nós nos conhecemos. Se encontrei o amor ali uma vez, porque não a segunda? Tive esperanças.
Estaca zero, de volta ao começo.

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