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adstera

vendredi 20 décembre 2013

Madrugada

Dia 20 – Crônica
Acho que devo ir – ela diz, incerta, na verdade sem vontade alguma de sair dali. Enquanto isso, ele apenas sorri, até porque a respiração ofegante não o permite muito mais que curvar os lábios. Ela tenta se concentrar, em vão. Seus olhos permanecem fixos nos lábios dele, ainda cheios do batom dela. Ela tem certeza de que ainda há um fluxo, uma energia atrativa tão grande entre eles, que esse breve espaço entre eles quase a engole por inteiro.
Eu diria em sintonia, mas na cabeça dele é apenas desejo.
E na dela... Bem, ela ainda tenta compreender. Respira, uma coisa de cada vez, tente raciocinar, ela mentaliza. As mãos delicadas se desencostam do blazer dele e vão direto às têmporas. Ela acredita que esse pequeno gesto tem alguma magia para que ela se concentre. Impossível, ele sequer deixa que os seus dedos permaneçam ali por alguns segundos.
– Deixa disso. Ainda está cedo, fica aqui comigo. – ele abaixa o tom de voz e toca sua nuca com leveza. E de repente ela se vê, mais uma vez, alheia ao tempo. O silêncio prevaleceu e ah, posso dizer que o encaixe perfeito também. Eles se gostam, mas jamais pensaram em verbalizar. Até porque não era necessário, o corpo por si só respondia a todas as perguntas não ditas. E diga-se de passagem, eu não saberia definir o que são: eles, talvez, nem pudessem ser rotulados de qualquer coisa, no máximo dois corações na mesma frequência. O compasso dos corpos, ao descompasso dos minutos, pede mais há muito tempo. Ela tenta se negar ao que quase certamente surge entre eles, mas sinceramente? Ela nem quer que isso acabe. Então se entregam.
– Eu fico – ela diz, quase inaudível, sem nem abrir os olhos. No íntimo da sua alma, ela se questiona: o que eu estou fazendo?
Ele sorri com os olhos. Ela nem se lembra como era se sentir assim, tocada. E não no sentido físico, mas emocional. O vento bate forte contra as suas costas e isso a deixa arrepiada. Mais ainda. Ao mesmo tempo, uma sensação inigualável a invade e sem pensar duas vezes, com o olhar vidrado nele, diz:
– Para sempre.
Ele a olha, tentando entender. Os olhos amendoados pediam uma resposta imediata.
– Talvez eu ficaria aqui com você. Tipo para sempre.
No mesmo instante, ela se sente estranha por ter dito tanto. Para quem nunca foi de demonstrar afeto, foi quase um eu te amo. Quase.
O rosto dele vai do sorriso a uma semelhante dúvida. A angústia começa a incomodar o peito dela. Não vai falar nada? Ela pensa.
– Então vem comigo. – ele diz, seguro e certo de si. E não vão para muito longe dali. Em poucos minutos, chegam a uma praça, de dia talvez bonita, mas de noite sem qualquer atrativo, a não ser uma brisa suave que vem fria por causa do pequeno curso d'água que passa pela área. Ele a guia até uma árvore, bem próxima à agua e ali se sentam. Ele nem se importa de sujar o vestido, até porque ele a faz se sentir bem do jeito que ela está, na madrugada escura, com a maquiagem borrada e o penteado já frouxo.
Ela se aninha no seu colo e aprecia o pedaço de natureza diante dos seus olhos. Inevitavelmente, aquela atmosfera a faz mais pensativa e envolvida no calor que emana dele. O frenesi da sua pele a deixa em completo fascínio.
– Eu não deveria estar aqui. Estou tão bem contigo, mas eu preciso ir.
Ele insiste mais uma vez para que ela fique. E ela entende – nós queremos estar aqui.
Por um breve momento, seus olhos pesam e ela se desconecta do aconchego. Ele continua a brincar com as mechas espalhadas no seu colo.
Ele a beija suavemente e isso a desperta do sono. Quanto tempo se passou? Horas?
– Olha para o céu. – ele diz – Está amanhecendo. O sol logo surge. E nós.. – ela o interrompe com os dedos nos seus lábios e o beija.
– Nós estamos surgindo também.

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