Ler ouvindo - Stop Crying Your Heart Out - Oasis.
Tentei por muito tempo escrever esse texto. Amassei folhas e exclui pensamentos. Enchi os blocos de rascunho do meu celular. Não consigo. Alguns sentimentos simplesmente não podem ser traduzidos. Eu que sempre os expressei assim, agora aprendi: Tem coisa que dói demais pra conter em sílabas. Tem dor que é coisa demais pra caber no papel. Não cabe, não caibo, não cabia. Nunca coube em mim, eu sempre transbordei. Quis me dividir contigo. "Vamos, leve um pouco com você, sou pequena demais pra guardar tudo isso". Mas você também não tinha espaço pra mim. Pra onde eu transbordo agora? Pra quem? O mundo é pequeno demais pra minha grandeza.
Agora você foi embora. Sua buzina não soa mais na frente da minha casa cinco vezes seguidas, despertando todos os vizinhos. Eu já não durmo no seu peito e nem acordo com você me dizendo pra levantar logo pra não me atrasar pra escola. Teus beijos não são mais meus. Há semanas não sinto teu abraço. Teu cheiro, impregnado no travesseiro, no moletom velho esquecido no meu armário, é o que me faz te sentir mais perto.
A rosa que você me deu, continua intacta na minha prateleira. Não tive a força de vontade de tirar teus rastros espalhados pela casa. Ainda tem o nosso retrato na estante da sala-de-estar. Nem você tirou da tua. Estive na tua casa uma tarde dessas, você não estava. Entrei no teu quarto e pude me despedir de cada canto. Abracei com desespero aquela tua camisa rosa, jogada sobre a cama, e chorei feito criança. Que tola. Dei adeus pra os teus violões pendurados na parede. Aqueles que costumavam carregar fotos minhas entre as cordas, agora tu tocas outro ritmo. A luminária que você me deu e me tomou por não ter pendurado, agora se esconde no quarto de hóspedes que ninguém usa, por debaixo de colchões e velharias. É o que somos agora. Luz ofuscada que já brilhou demais, mas agora se esconde em um quarto de hóspedes esquecido, apagada.
Conformismo medíocre. Não me satisfaço em aceitar que nos apagamos. Você em mim é caneta permanente, é luz acesa, é ontem e hoje. Você em mim é amor. Hipocrisia seria dizer o contrário. O tempo de "você e eu" acabou, mas você em mim não, você em mim é tempo infinito. E ponto.
Você está feliz agora. O vejo sempre sorrindo, e contando pros outros as piadas que eu já sei de cor. Você ainda me olha bonito, e fala bonito, e anda bonito. De longe, numa performance admirável que eu faço questão de assistir sempre, aqui do meu banco. Você é bom matemático e eu sempre fui boa na língua. Te expliquei umas três vezes as aplicações dos porquês. Junto, separado, com acento, sem. Você entendeu. Hoje eu não entendo. Não entendo os porquês. Não sei te explicar. Amor nem sempre é o suficiente, e esse é o grande mistério. Talvez um dia a gente descubra.
Enquanto isso eu fico aqui. Te assisto da primeira fileira, no canto, já sei seu papel de cor. Infelizmente, na peça que você escolheu atuar, eu não sou protagonista. As cortinas se fecharam, já não faço mais parte do teu show. Devolvo meu ingresso e saio de cena. Te amo quietinha, de longe, nos bastidores. Ninguém aplaude, a história não teve final feliz, e só. Não escrevo ficção, narro fatos. E contra fatos não há argumentos. As palavras já perderam o sentido...
Quando nada mais inspira, a gente escreve sobre o quê?
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