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adstera

lundi 20 avril 2015

Amar se desaprende?



Eu tô te escrevendo hoje pra te dizer que eu queria ter te amado menos. Bem menos. Na verdade, eu nem sei se queria ter te amado. Mas eu amei. Cara, eu amei. Eu amei até a última gota de amor que eu tinha e, hoje, não sei se tenho mais.

Eu acho que eu desaprendi a amar, depois de você. Eu acho que perdi a manha, sabe? Eu cansei. Eu amei tanto você que eu perdi a vontade de amar outras pessoas. Eu perdi o jeito, cara. Eu perdi o assunto. E tem tanto rapaz bonito com quem eu podia casar e ser feliz. Tem tanto rapaz bonito que me acha bonita também. Mas, eu não consigo. Eu não consigo amar nenhum deles. Eu não consigo decifrar os sorrisos deles. E o seu eu sabia tanto. Eles me dizem coisas tão bonitas e eu não sinto nadinha. E, com você, eu sentia tanto.

E sempre que eu percebo que alguém está conseguindo despertar em mim um pouco do que restou, eu fujo. O amor que restou em mim é meu, porque ele tem o teu cheiro. E a tua cara de sono de manhã. E a melodia das músicas que você cantava no chuveiro todo domingo à noite. E todo o amor em mim que restou de nós ainda é tão teu. E toda vez que eu penso em alguém, eu ainda penso tanto em você, que eu acho que você ainda está no quarto ao lado. Entre toda a dor. Entre todas as palavras cuspidas com raiva. Entre tudo o que você disse não sentir mais. Entre tudo que eu jurei nem lembrar.

E o amor que restou em mim é tão meu porque é a única coisa que me resta de você. É a única coisa que sobrou de nós. Eu queimei todo o resto, cara. Todas as cartas que você me enviou. Todas as fotos que enfeitavam a sala-de-estar. Toda roupa tua que sobrou no meu armário. Entre tanta coisa ao meu redor que me lembrava você, a única coisa que sobrou agora, tá aqui dentro.

E tem tantos outros olhos querendo olhar pros meus, cara. Tem tanta gente mais interessante que você. Tem tanto discurso bonito que podia me convencer. Mas tudo que eu consigo pensar é em te pedir socorro. E eu tenho vontade de te ligar no meio da noite e te dizer: "Não deixa ninguém me levar, cara. Eu ainda sou tão sua. Eu não sei amar os outros. Vem me buscar. Eu tô na esquina entre o ainda e o nunca-mais. Pelo amor de Deus, venha  antes que eu vá." E você não vem. Porque eu não ligo. Eu nem sei mais o seu número, cara.

E eu esbarro com você por aí e eu nem sei mais quem você é. E você ainda usa aquela camisa bonita que eu te dei no teu aniversário, e eu nem sei mais quem você é. E você ainda conta aquela sua mesma piada sem graça que eu já sei de cor, e eu nem sei mais quem você é. Eu não sei, cara. E o problema é que tem dias que eu tô louca pra redescobrir, mas não dá.

É tarde demais, cara. É tarde demais porque eu não sei nem se conseguiria amar você, também. Eu não sei se conseguiria te amar de novo, ou te amar ainda. Eu não sei se eu sei amar. E, hoje, eu falo tanto do amor porque na prática eu não sei mais se eu consigo. E eu só tô te escrevendo pra te dizer que eu queria ter sido menos, cara. Porque eu posso não ser boa em matemática, mas eu sei que menos com menos dá mais. Mas o problema é que eu sempre fui o sinal positivo da história, cara. Eu queria ter sido menos porque, talvez, se eu tivesse te amado menos, hoje ainda restaria um saldo positivo no meu peito. Mas eu tô no vermelho, cara. Eu tô devendo tudo que eu tenho e todo dia a saudade vem sacar um pouco do que eu sou.

Eu tô atravessando a rua do adeus. Eu já tô do outro lado. O que sobrou eu levo na mala, soco no peito, pra mim tanto faz. É cedo pra dizer que não sinto mais nada. É tarde pra querer voltar atrás. O que me resta hoje é isso: Te amo pra sempre. E pra nunca mais.

Com amor, GC! <3

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